Foi com grande estupefacção que li a nota Editorial do Jornal Público de hoje, intitulada “Uma decisão incompreensível” (ver nota editorial aqui), e que critica de forma completamente injusta a decisão do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses a manter a greve.
Pode ler-se na nota que “não se entende e, mais, se condena, é que um sindicato como o dos enfermeiros se tenha mostrado insensível ao apelo que lhe foi feito pela Direcção-Geral da Saúde para que repensasse a data da greve marcada para hoje (e que se repetirá dia 21) face ao surto de legionella ainda por controlar no país. É que uma epidemia não é propriamente uma “hora de ponta”, é uma emergência. E virar as costas a tal argumento é uma vergonha.”
Como enfermeiro que sou e utente do Sistema Nacional de Saúde, o que acho uma vergonha é que as pessoas apenas acordem quando surge uma epidemia de Legionella localizada e restrita a uma região do pais que apenas envolve uma mão cheia de hospitais, esquecendo-se que existem definidos os serviços mínimos e que esses mínimos já estão a ser realizados 365 dias do ano em muitos serviços devido à falta de profissionais.
Sim… porque não é segredo para ninguém que a classe de enfermagem se esforça diariamente para prestar cuidados de saúde de qualidade apesar de se encontrar nos limites mínimos de dotação em grande parte dos serviços.
E de repente a classe de Enfermagem tão severamente esquecido e menosprezada ganha valor e importância devido a um surto localizado de uma epidemia, como se a greve tivesse sido convocada com conhecimento de epidemia ou se tivessem sido os enfermeiros a provocar a mesma.
Concordo que haja insensibilidade nos assuntos da saúde… sem dúvida que há essa insensibilidade… mas não certamente da parte dos Enfermeiros ou dos sindicatos que os representam!
E para quem tiver dúvidas disso, faço o convite que visitem um serviço hospitalar nos outros 364 dias do ano, com Legionella ou sem ela.
