Saúde e bem-estar

Hospital de Aveiro deu alta a 26 mortos

Corpos que precisam de perícias têm de ser inscritos nas urgências e ter alta para irem para a morgue. Já aconteceu 26 vezes

Desde Agosto todos os cadáveres enviados para o gabinete do Instituto de Medicina Legal de Aveiro fora do horário de expediente deste serviço passaram dar entrada nas urgências do hospital distrital com pulseira preta e a ter de esperar por alta para serem colocados na morgue, com enfermeiros e médicos a verem-se envolvidos num processo que até aqui cabia a funcionários judiciais.

Numa altura em que este caso está envolto em polémica crescente, a Ordem dos Enfermeiros revelou ao i que questionou a ilegalidade do circuito junto da tutela, Administração Regional de Saúde e Inspecção-Geral das Actividades em Saúde há quase dois meses e que apenas a IGAS informou ter aberto uma acção inspectiva, sem resultados públicos.

Isabel Oliveira, vogal da direcção, contou ao i que a Ordem vai recomendar aos enfermeiros esta semana que recusem as tarefas que lhes foram atribuídas num processo que descreve como “inimaginável.” Além da triagem inédita com pulseiras pretas, os enfermeiros foram encarregues de fazer o espólio de vítimas de homicídio, exemplifica. Ou seja, listarem todos os bens que as pessoas tinham consigo quando foram encontradas pela polícia, tarefa para a qual não estão habilitados legalmente.

Se até aqui a Ordem dos Enfermeiros tinha mantido reserva sobre a sua intervenção neste caso, as críticas públicas à ausência de resposta quer da unidade quer da tutela vêm adensar a nuvem em torno do novo circuito dos cadáveres em Aveiro. Na semana passada, a Ordem dos Médicos levou o caso para a Justiça com uma queixa ao Ministério Público, denunciando a violação de normas legais. Ontem o PS também exigiu esclarecimentos ao Ministério da Saúde e a tutela ainda não se pronunciou.

LITÍGIO INTERNO As regras terão resultado de um litígio interno na unidade. Segundo o i apurou, como o Gabinete Médico Legal e o Hospital de Aveiro partilham o mesmo recinto, têm um protocolo para que os auxiliares das urgências – que funcionam 24 horas por dia – tratem do acondicionamento de cadáveres provenientes do exterior durante a noite e ao fim-de-semana.

O facto de não terem formação para preencher formulários nesta área, que começaram a ser exigidos pelo serviço tutelado pelo Ministério da Justiça, e a exigência em matéria de tempo num serviço desfalcado de assistentes terá feito o pessoal a decretar greve à função. Isto levou a administração da unidade hospitalar, que pertence ao Centro Hospitalar do Baixo Vouga, a instituir as novas regras, decretando a inscrição dos cadáveres na urgência e posterior circuito até à morgue. Desta forma, sendo utentes do hospital, a transladação do corpo não podia ser recusada. Isabel Oliveira não contesta a articulação entre serviços, mas defende que o modo como está a ser feita levanta dúvidas legais e de saúde pública e já deveria ter sido objecto de intervenção. “É uma questão de dignidade dos mortos e respeito pelos profissionais”, diz.

A responsável explica que as pulseiras pretas só estão previstas em situações de catástrofe e afirma ainda que as queixas que têm chegado à Ordem apontam para dúvidas quanto à limpeza do espaço em que os cadáveres são acolhidos e o seu convívio com doentes mas também sobre a capacidade da urgência para lidar com vítimas de crimes violentos ou corpos em decomposição. Há ainda o relato da entrada de um caixão na urgência, visível aos doentes à espera.

REGRAS VISAM EVITAR ERROS Contactado pelo i, o Centro Hospitalar do Baixo Vouga justificou o percurso dos cadáveres pelas urgências como uma forma de eliminar “erros de procedimento” que se verificaram no passado na identificação e acondicionamento de cadáveres. Fonte oficial alega contudo que algumas regras são diferentes das que têm sido publicitadas.

Segundo o boletim de serviço de 6 de Agosto que instituiu o procedimento, a que o iteve acesso, inicialmente foi dada ordem para os cadáveres serem colocados na sala de emergência das urgências até serem levados para a morgue.

O centro hospitalar alega que essa regra foi alterada e que desde o final de Agosto há “novos procedimentos”, resultado da procura de consenso na unidade. O i solicitou a nova ordem interna, até à hora de fecho sem resposta. A administração informou que os cadáveres não são colocados na sala de emergência mas numa sala autónoma, não existindo contacto com vivos. “É de referir que à semelhança do que acontece com os cadáveres internos, é sempre efectuada a higienização dos espaços depois da utilização por cadáveres”, esclareceu fonte oficial. A unidade garante também que o circuito de entrada na urgência é autónomo do dos doentes, assim como a triagem.

De acordo com a unidade, desde o início de Agosto foram acolhidos no serviço de urgência 26 cadáveres, “em média dois por semana.” Questionada sobre a queixa dos médicos, a administração fala de uma “tentativa de contributo no sentido da melhoria”, mas alega que está baseada numa informação com pressupostos diferentes da existente.

Fonte: Ionline

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