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GASOMETRIA ARTERIAL: O QUE DEVEMOS SABER

A gasometria arterial avalia a troca gasosa, através da medida das pressões parciais de oxigênio (PaO2) e dióxido de carbono (PaCO2), assim como o pH de uma amostra arterial. Comumente utilizado, tal procedimento requer uma série de cuidados prévios que vão desde a escolha do melhor local, até a avaliação clínica do paciente e verificação de medicamentos de uso habitual da pessoa, os quais possam vir a causar sangramentos. Tais cuidados acabam sendo essenciais para que não ocorram uma série de complicações advindas não só da técnica de punção utilizada, bem como das próprias condições clínicas do paciente.

A PaO2 mede a pressão exercida pelo oxigênio dissolvido no sangue e avalia a habilidade dos pulmões de oxigenar o sangue. A Paco2 mede a pressão exercida pelo dióxido de carbono dissolvido no sangue e reflete a pressão exercida pelo dióxido de carbono dissolvido no sangue e reflete a adequação da ventilação pulmonar. O pH mede a concentração dos íons de hidrogênio (H+) e os íons carbonato (HCO3-) representam a medida da concentração desses ions no sangue, regulada pelos rins. A saturação de oxigênio (SaO2) é a expressão da quantidade de oxigênio sanguíneo por meio de porcentagem, refletindo a quantidade de oxigênio que o sangue pode transportar se todas as moléculas de hemoglobina (Hb) estivessem completamente saturadas.

A gasometria arterial objetiva avaliar a eficácia da troca de gases pulmonares; avaliar a integridade do sistema de controle ventilatório; determinar os níveis ácido-básicos do sangue e monitorizar e avaliar a terapia respiratória.

Procedimento

Preparação do paciente

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  1. Explicar ao paciente que a gasometria arterial avalia como os pulmões estão entregando o oxigênio ao sangue e eliminando o dióxido de carbono.
  2. Avisar ao paciente que o exame requer uma amostra de sangue.
  3. Explicar ao paciente quem irá proceder à punção arterial.
  4. Após avaliação, informar ao paciente qual será o local da punção: artéria radial, braquial ou femoral.
  5. Informar ao paciente que ele pode não precisar de restrição alimentar ou de fluidos.
  6. Instruir o paciente a respirar normalmente durante a coleta de sangue arterial e avisá-lo que uma dor rápida e latejante poderá ser sentida no local da punção.

Implementação

  • Lave as mãos conforme técnica adequada.
    Imagem: OSCE Skills
    Lave as mãos de acordo com a técnica adequada
  • Organize o material necessário:
    • Agulha hipodérmica
    • Seringa de 3ml com heparina (ou seringa específica para gasometria arterial)
    • Cubo de borracha para proteção da agulha (em geral, presente nos kits para gasometria arterial)
    • Tampa plástica para a seringa
    • Bolinha de algodão com álcool 70% (ou lenço antisséptico)
    • Bolinha de algodão seco (ou gaze)
    • Luvas de procedimento
  • Posicione o paciente com o punho em extensão.
  • Localize a artéria radial com os dedos indicador e médio. Realize o Teste de Allen: comprima as artérias radial e ulnar ao mesmo tempo. A mão ficará descorada. Interrompa a compressão sobre a artéria ulnar e a cor normal da mão deverá retornar. Esse procedimento assegura que haverá aporte sanguíneo para a mão caso haja espasmo da artéria radial.
  • Calce as luvas e conecte a seringa à agulha.
  • Desencape a seringa e localize novamente a artéria radial usando a sua mão não-dominante.
    Imagem: OSCE Skills
    Desencape a agulha
  • Insira a agulha na pele em um ângulo de 30 graus, no local onde há pulsação máxima da artéria radial. Avance lentamente a agulha até que haja um fluxo de sangue dentro da agulha. A pressão arterial preencherá a seringa.
    Imagem: OSCE Skills
    Sinta o pulso e prepare para inserir a agulha. Segure a seringa como se fosse um lápis
  • Remova o conjunto agulha/seringa, protegendo a ponta da agulha no cubo de borracha.
  • Aplique pressão sobre o local da punção com a bolinha de algodão para estancar o sangramento. Prolongue a pressão por um período de 3 a 5 minutos.
  • Retire de forma segura a agulha (com a ponta já protegida) e despreze na caixa coletora de pérfuro-cortantes.
  • Oclua a ponta da seringa com a tampa fornecida pelo fabricante e retire qualquer bolha de ar presente.
    Imagem: OSCE Skills
    Tampe a seringa. Os kits de gasometria trazem seringas com uma tampa apropriada
  • Disponha o material em uma caixa com gelo (ou gelox) e encaminhe prontamente para análise.
  • Retire as luvas, despreze-as no cesto de lixo infectante.
  • Lave as mãos e agradeça ao paciente.
  • Realize a anotação correta sobre a realização do procedimento no prontuário do paciente. Não esqueça de relatar possíveis intercorrências.

Intervenções de Enfermagem

  1. Após aplicar pressão sobre o local da punção por um período de 3 a 5 minutos, depois de verificar que o sangramento cessou, faça um curativo com gaze firmemente fixada sobre o local puncionado.
  2. Se o local puncionado for no membro superior, não prenda fita adesiva em toda a circunferência do braço. Isso pode restringir ou interromper a perfusão sanguínea.
  3. Se o paciente está em uso de anticoagulantes ou possui alguma coagulopatia, aplique pressão no local de punção por mais de 5 minutos, caso seja necessário.
  4. Caso o paciente esteja em oxigenoterapia, anote o fluxo de oxigênio e o modo de oxigenoterapia/ventilação.
  5. Monitore os sinais vitais e observe se existem sinais de prejuízo circulatório.

Interpretação

Resultados Normais

Os valores normais da gasometria arterial variam entre os valores abaixo.

· PaO2: 80 a 100 mm Hg (SI, 10.6 to 13.3 kPa)

· PaCO2: 35 a 45 mm Hg (SI, 4.7 to 5.3 kPa)

· pH: 7.35 a 7.45 (SI, 7.35 to 7.45)

· SaO2: 94% a 100% (SI, 0.94 to 1)

· HCO3-: 22 a 25 mEq/L (SI, 22 to 25 mmol/L)

Achados Anormais

  • PaO2 e PaCO2 baixos podem resultar de condições que prejudicam a função respiratória, tais como hipotonia ou paralisia dos músculos respiratórios, inibição do centro respiratório (decorrente de TCE, tumor cerebral ou abuso de drogas).
  • Baixas leituras podem resultar de obstrução bronquiolar causada por asma ou enfisema, bem como por uma taxa de ventilação/perfusão baixa em decorrência de alvéolos parcialmente ocluídos, danificados ou preenchidos por fluidos.
  • Quando o ar inspirado contem oxigênio insuficiente, a PaO2 diminui e a PaCO2 pode permanecer normal. Tais achados são comuns em pneumotórax e difusão gasosa prejudicada entre os alvéolos e o sangue.

Precauções

  • Aguarde pelo menos 20 minutos antes de coletar uma amostra para gasometria arterial sempre que iniciar, mudar ou descontinuar a oxigenoterapia; após iniciar ou mudar os parâmetros da ventilação mecânica; ou após extubar o paciente.
  • Antes de enviar a mostra ao laboratório, anote na requisição do exame se o paciente estava em ar ambiente ou em oxigenoterapia quando a amostra foi coletada.

Fatores interferentes

  • A exposição da amostra ao ar ambiente pode aumentar ou diminuir a PaO2 e PaCO2.
  • Sangue venoso como amostra possivelmente diminui a PaO2 e aumenta a PaCO2.
  • O uso de Diamox, Macrodantin e Tetracycline pode diminuir a PaCO2.
  • Febre pode causar uma falsa elevação na PaO2 e PaCO2.

Complicações

  • Sangramento no local da punção
  • Hematoma local
  • Espasmo arterial

Perguntas e Respostas (Q&A)

1 – Quais artérias devem ser preferencialmente puncionadas para coleta de sangue?

Idealmente deve-se puncionar uma artéria que tenha trajeto superficial, pois assim a punção será menos dolorosa e mais fácil, e que tenha circulação colateral adequada para a perfusão dos tecidos distais caso haja espasmo com a punção. A artéria que melhor preenche essas características é a radial. Outras opções satisfatórias são a dorsal do pé, a tibial posterior e a temporal superficial, está última apenas em recém-nascidos. As artérias braquiais e femorais devem ser evitadas, sobretudo em pacientes com problemas de hemostasia, pois, em caso de sangramento, a compressão pode ser difícil.

2 – A gasometria arterial pode ser colhida com seringa de plástico?

Idealmente a gasometria arterial deveria ser colhida com seringa de vidro, isso porque pode haver difusão de gases através do plástico, determinando imprecisões nas análises. Entretanto, a praticidade das seringas de plástico, descartáveis, praticamente pôs fim às de vidro. Além disso, a magnitude do erro que pode haver com a utilização de seringas de plástico é muito pequena, ocorrendo apenas com valores de PaO2 acima de 220 mmHg e quando a análise é feita após 15 minutos da coleta. Em função desses aspectos, as seringas de plástico podem ser usadas para a coleta de sangue para gasometria arterial.

3 – Quais cuidados devem ser observados com a amostra de sangue arterial até a sua análise?

Após a coleta do sangue arterial, as seguintes providências devem ser tomadas:

  • remover bolhas de ar eventualmente presentes dentro da seringa;
  • ocluir a seringa para manter a amostra em ambiente anaeróbio;
  • movimentar a seringa entre as mãos durante 10 a 15 segundos para misturar a heparina com o sangue;
  • manter a seringa em gelo até a análise do material, sobretudo se essa não for feita imediatamente após a coleta.
4 – Quais são as possíveis causas de erro na gasometria, relacionadas à coleta e ao transporte da amostra?

O resultado da gasometria arterial pode ser afetado por alguns artefatos durante a realização da coleta e o transporte do sangue.

Bolhas de ar

A presença de bolhas de ar ocupando mais de 2% do volume de sangue na seringa pode provocar erro no resultado da gasometria. Tal artefato eleva a PaO2 e subestima a PaCO2. A retirada, sem agitação, das bolhas da seringa e a realização imediata da análise atenuam o problema.

Uso de heparina

Quantidade exagerada de heparina na seringa utilizada para a coleta do sangue pode reduzir de forma significativa a medida da PaCO2. Assim, a quantidade de heparina empregada deve ser a mínima possível, apenas o suficiente para lubrificar as paredes da seringa. Além disso, pelo menos 2 ml de sangue deve ser obtido, diluindo assim o pequeno volume de heparina.

Demora no transporte e no processamento do exame

A partir de dois minutos da coleta do sangue, já se observa redução da PaO2 e do pH e elevação da PaCO2, devido ao metabolismo dos leucócitos. Esse fenômeno é mais acentuado em pacientes com leucocitose importante. Para prevenir esse problema é necessária a colocação do material em gelo até a análise, que deve ser feito o mais rápido possível.

5 – Quais são as complicações possíveis com a coleta da gasometria arterial?

As complicações não são freqüentes quando a técnica da coleta é observada. A coleta do sangue arterial é mais dolorosa do que a punção venosa. Alguns autores recomendam a infiltração com anestésico local antes da punção arterial, medida que comprovadamente reduz a dor do procedimento. Mais raramente pode ocorrer reação vaso-vagal durante a punção arterial.

Sangramento e formação de hematoma no local de punção ocorrem sobretudo quando o paciente já apresenta distúrbio de coagulação e quando não se faz a compressão adequada do local, a qual deve durar pelo menos cinco minutos. Artérias mais profundas, como a braquial e a femoral, impõem maior dificuldade à compressão, implicando em riscos maiores de sangramento. Quando a artéria femoral é inadvertidamente puncionada acima do ligamento inguinal, o sangramento pode se dirigir para o retroperitônio. Essa complicação pode determinar perdas sangüíneas importantes, inclusive com repercussão hemodinâmica, às vezes de difícil diagnóstico.

Trombose, embolização e infecção são complicações descritas com a implantação de cateteres intra-arteriais para monitoração invasiva da pressão arterial, mas não com punções arteriais para gasometria.

6 – Quais são os parâmetros avaliados na gasometria arterial?

Os parâmetros são:

  • pH
  • PaO2
  • PaCO2
  • SaO2
  • Bicarbonato
  • Excesso de base
7 – Quais as indicações de se realizar a gasometria arterial?

Como a realização das trocas gasosas, ou seja, absorção do oxigênio e eliminação do gás carbônico, é o objetivo principal do sistema respiratório, a gasometria arterial é importante teste de avaliação funcional do sistema respiratório. Assim, ela deve ser realizada na suspeita de insuficiência respiratória, aguda ou crônica. Além da importância no diagnóstico da insuficiência respiratória, a gasometria permite, a partir da avaliação dos níveis dos gases arteriais, quantificar o problema e acompanhá-lo evolutivamente.

Na prática clínica, a gasometria arterial, em geral, é solicitada quando há sinais e sintomas sugestivos de hipoxemia ou hipercapnia, os quais nem sempre são de fácil reconhecimento, pois são comuns a outras situações e nem sempre estão presentes, sobretudo nas fases iniciais (tabela 1). Ela também é realizada na monitoração de condições em que o risco de distúrbio nas trocas gasosas é sabidamente alto.

Tabela 1. Principais sintomas e sinais associados a hipoxemia e hipercapnia

Hipoxemia

Hipercapnia

  • Cefaléia
  • Alterações de comportamento
  • Confusão, sonolência e coma
  • Convulsões
  • Taquicardia (mais raramente bradicardia)
  • Arritmias
  • Hipertensão
  • Hipotensão (fases mais avançadas), choque
  • Dispnéia, taquipnéia
  • Cefaléia, vertigem
  • Confusão
  • Sonolência, coma
  • Hipertensão intracraniana, papiledema
  • Asterixis
  • Sudorese
  • Hipotensão (nas fases mais precoces pode haver hipertensão)
  • Choque

A possibilidade de avaliar o bicarbonato e o pH faz com que a gasometria esteja indicada na investigação de distúrbios metabólicos. Entretanto, não havendo suspeita de comprometimento das trocas gasosas, pode-se optar pela gasometria venosa, cuja coleta é menos invasiva e menos dolorosa.

8 – Qual o valor normal da pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2)?

Como há uma tendência natural da PaO2 cair com o avançar da idade, existem fórmulas para estimar o seu valor nas diferentes faixas etárias. A seguir estão apresentadas duas das fórmulas mais utilizadas e igualmente corretas.

PaO2 = 108,75 – (0,39 x idade em anos)

PaO2 = 104,2 – (0,27 x idade em anos)

Obs: ambas pressupõem respiração em ar ambiente
9 – Como interpretar o valor da pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2)?

Quando a gasometria arterial é colhida com o paciente respirando ar ambiente (FIO2=21%), considera-se hipoxemia quando a PaO2 está abaixo do valor esperado para a idade, conforme as fórmulas descritas anteriormente. A hipoxemia assume níveis importantes quando a PaO2 está abaixo de 60 mmHg, pois, conforme será discutido mais a frente, a partir daí passa-se a comprometer a oxigenação tecidual. Em função desse fato, a maior parte dos autores considera 60 mmHg o limite a partir do qual caracteriza-se insuficiência respiratória.

Quando o paciente está recebendo alguma suplementação de oxigênio, seja em ventilação mecânica ou por cateter ou máscara de oxigênio, a análise isolada da PaO2 não é suficiente, sendo necessário o cálculo da relação PaO2/FIO2.

10 – Como obter e interpretar a relação PaO2/FIO2?

A relação PaO2/FIO2 é a divisão da PaO2 obtida na gasometria arterial pela FIO2, em valores absolutos (ex: 21%=0,21), em que o paciente estava respirando quando foi colhida a amostra do sangue arterial. Quando o indivíduo está em ventilação mecânica, o valor da FIO2 é fornecido pelo aparelho; quando está recebendo oxigênio por máscara de Venturi, esse valor é estimado conforme o tipo de máscara e o fluxo utilizado e vem impresso na mesma. Quando a suplementação de oxigênio é feita com cateter nasal ou máscaras comuns, a estimativa da FIO2 é muito pouco precisa. Nesses casos, em indivíduos adultos, assume-se que para cada litro de oxigênio a FIO2 é elevada em 0,03 a 0,04 (ex: a oferta de oxigênio a 3 l/min com cateter nasal determina FIO2 de 30% a 33%, que representa 21% do ar ambiente acrescido de 9% a 12% da oferta suplementar).

A relação PaO2/FIO2 permite a avaliação da oxigenação em diferentes condições de oferta de oxigênio. Os valores normais e as gradações de anormalidade estão relacionados abaixo.

  • PaO2/FIO2>400 mmHg – normal;
  • PaO2/FIO2>300-400 mmHg – déficit de oxigenação, mas ainda não em níveis convencionalmente estabelecidos de insuficiência respiratória;
  • PaO2/FIO2<300 mmHg – insuficiência respiratória;
  • PaO2/FIO2<200 mmHg – insuficiência respiratória grave.

Por ser de fácil obtenção e poder ser utilizada em diferentes condições de oferta de oxigênio, a PaO2/FIO2 é considerada hoje o melhor parâmetro de monitoração de oxigenação.

11 – Como se calcula a diferença alvéolo-arterial de oxigênio e qual a sua importância?

A diferença alvéolo-arterial de oxigênio (P(A-a)O2) é calculada com a seguinte fórmula:

sendo que,

onde:

PAO2 – pressão alveolar de oxigênio;
PaO2 – pressão arterial de oxigênio;
PaCO2 – pressão arterial de gás carbônico;
Pbar – pressão barométrica (740 mmHg no nível do mar);
FIO2 – fração inspirada de oxigênio;
R – coeficiente respiratório, assumido, na prática, como 0,8.

A diferença alvéolo-arterial de oxigênio permite avaliar se há algum bloqueio à passagem de ar entre o alvéolo e o sangue arterial, situação em que ela está aumentada. Nesses casos, a hipoxemia está ocorrendo por alteração na relação ventilação-perfusão ou por defeitos na difusão. Por outro lado, quando há hipoxemia e a diferença alvéolo-arterial de oxigênio está normal, significa que a causa da hipoxemia é hipoventilação.

Na prática a análise da P(A-a)O2 tem duas aplicações principais:

  • paciente com suspeita de insuficiência respiratória aguda e hiperventilando, portanto com PaCO2 baixa, com PaO2normal. Nesse caso, a P(A-a)O2, se alargada, mostra que já há comprometimento da troca gasosa no pulmão, mas a hipoxemia ainda não surgiu por estar sendo compensada pela hiperventilação. A P(A-a)O2 altera-se mais precocemente do que a PaO2.
  • paciente com hipoxemia e hipercapnia, quando há dúvida se, além de hipoventilação, existe componente pulmonar na insuficiência respiratória. Se a hipoxemia for decorrente exclusivamente da hipoventilação, a P(A-a)O2 estará normal. Caso ela esteja alargada, há um componente pulmonar associado.
12 – Quais são as limitações na interpretação do gradiente alvéolo-arterial de oxigênio?

A P(A-a)O2 parte de uma estimativa do quociente respiratório em 0,8, já trazendo algum grau de imprecisão no seu cálculo. Mas a maior limitação para o uso clínico da P(A-a)O2 é que seu valor normal varia conforme a FIO2 em que é calculada e essa variação não tem um comportamento linear. Assim, para sua interpretação, é necessário o conhecimento do seu valor normal na FIO2 em que foi calculada, ou alternativamente, sempre calculá-la na mesma FIO2. Os valores normais da P(A-a)O2 nas FIO2 de 21% e 100% são, respectivamente, de 5-15 mmHg e 150 mmHg.

13 – Qual a relação existente entre a pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2) e a saturação da hemoglobina pelo oxigênio no sangue arterial (SaO2)?

A relação entre a PaO2 e a SaO2 é representada pela curva de dissociação do oxigênio. O oxigênio dissolvido no plasma liga-se facilmente à hemoglobina, originando a oxi-hemoglobina. A quantidade de oxigênio que se liga à hemoglobina aumenta rapidamente à medida que a PaO2 aumenta até valores em torno de 60 mmHg. A partir daí, já estando a hemoglobina saturada em mais de 90%, a curva passa a apresentar um platô, com pequenos aumentos da SaO2, mesmo com grandes elevações da PaO2 (figura 1).

14 – O que afeta a curva de dissociação do oxigênio?

Diversos fatores podem afetar a afinidade do oxigênio pelo hemoglobina, determinando, graficamente, desvios da curva de dissociação do oxigênio para a direita (diminuição da afinidade pela hemoglobina) ou para a esquerda (aumento da afinidade pela hemoglobina).

A curva é desviada para a direita pela elevação da temperatura corpórea, elevação da PCO2, queda do pH sangüíneo e elevação do 2,3-DPG (produto final do metabolismo das hemácias). Nessas situações a afinidade do oxigênio pela hemoglobina está diminuída e, portanto, o oxigênio é mais facilmente liberado para os tecidos periféricos. O monóxido de carbono desvia a curva para a esquerda, resultando em uma maior afinidade do oxigênio pela hemoglobina, com dificuldade de sua liberação para a periferia.

15 – No sangue arterial, qual a proporção do oxigênio dissolvida no plasma e qual a ligada à hemoglobina?

O oxigênio é transportado no sangue sob duas formas: dissolvido no plasma, representado pela PaO2, e combinado com a hemoglobina, representado pela SaO2. A solubilidade do oxigênio no plasma é baixa – apenas 0,003 ml de oxigênio são dissolvidos em cada 100 ml de sangue. Assim, a maior parte do oxigênio do sangue arterial está ligado à hemoglobina – cada grama de hemoglobina é capaz de combinar-se com 1,36 ml de oxigênio.

A soma do oxigênio dissolvido no plasma com o ligado à hemoglobina constitui o conteúdo arterial de oxigênio, que pode ser calculado pela seguinte fórmula:

CaO2 = PaO2, x 0,003 + SaO2 x Hb x 1,36

Para se ter idéia da importância do oxigênio ligado à hemoglobina e a irrelevância do dissolvido no plasma em relação ao conteúdo arterial de oxigênio, tomemos o seguinte exemplo prático:

Hb=15 mg/dl
PaO2=100 mmHg
SaO2=97,5%

Nessa situação normal temos:

CaO2=20,19 g/dl, dos quais 0,3 estão dissolvidos no plasma e 19,89 ligados à hemoglobina

16 – A avaliação da PaO2 pode ser substituída pela da SaO2?

Não, apesar da relação entre as duas variáveis, na prática elas permitem avaliar pontos diferentes em relação à oxigenação do paciente. Como a maior parte do oxigênio transportado no sangue para os tecidos encontra-se ligado à hemoglobina, uma SaO2 acima de 90% é satisfatória do ponto de vista da perfusão dos tecidos com oxigênio, não se justificando aumentar os níveis de oxigênio no sangue arterial, pois a variação na SaO2 será mínima.

Por outro lado, quando queremos monitorar a função pulmonar de oxigenação, a análise da PaO2 é melhor do que a da SaO2. Isso porque, nos pacientes com SaO2 acima de 90%, podem ocorrer grandes comprometimentos da função pulmonar, com reduções acentuadas da PaO2, mas com apenas discretas reduções na SaO2, em função da conformação da curva de dissociação da oxi-hemoglobina. Por exemplo, uma redução da PaO2 de 160 mmHg para 80 mmHg pode resultar em uma redução da SaO2 de 99% para 95%.

Podemos concluir que a SaO2 não é adequada para avaliar a capacidade de oxigenação do sangue arterial pelos pulmões, o que deve ser feito pela análise da PaO2 e, principalmente pela relação PaO2/FIO2. A SaO2 é capaz de avaliar se o nível de oxigênio no sangue arterial é adequado para as necessidades dos tecidos.

17 – Quais os valores normais da pressão parcial de gás carbônico no sangue arterial (PaCO2)?

O valor normal da PaCO2 varia entre 35 e 45 mmHg. Ao contrário da PaO2, o valor da PaCO2 não varia com a fração inspirada de oxigênio.

18 – Como interpretar os valores da pressão parcial de gás carbônico no sangue arterial (PaCO2)?

A PaCO2 reflete diretamente a ventilação alveolar. Assim, valores inferiores a 35 mmHg indicam hiperventilação e valores acima de 45 mmHg, hipoventilação.

19 – Quais são os distúrbios ácido-básicos principais?

São os seguintes os distúrbios ácido-básicos:

  • acidose metabólica: distúrbio caracterizado pela baixa concentração de bicarbonato, determinando redução do pH;
  • alcalose metabólica: distúrbio caracterizado pela elevação da concentração de bicarbonato, com conseqüente aumento do pH;
  • acidose respiratória: distúrbio caracterizado pela elevação da PaCO2, determinando redução do pH;
  • alcalose respiratória: distúrbio caracterizado pela redução da PaCO2, com conseqüente aumento do pH.

Fontes: OSCE Skills, NursingCrib, Pneumo Atual e COREN-SP

 

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