Saúde e bem-estar

O laboratório que testa os vírus mais perigosos do mundo

um dos dois laboratórios de alta segurança do Instituto Ricardo Jorge, em Lisboa. É aqui que se faz o diagnóstico de doenças perigosas como o ébola

O perigo passa-lhes muitas vezes pela ponta dos dedos no laboratório de alta segurança do Instituto Nacional Ricardo Jorge (INSA). Está no quinto piso do edifício situado na Avenida Padre Cruz, em Lisboa, e foi criado na década de 1980 quando surgiram os primeiros casos de VIH e nada se sabia sobre a transmissão do vírus. Chamam-lhe P3, por causa da classificação de grau de segurança três (o máximo é grau quatro e na Europa existem oito) e faz parte de uma rede europeia aprovada para diagnosticar vírus e bactérias mais perigosos do mundo.

“Há sempre uma adrenalina associada a toda esta manipulação. Não é na questão da manipulação em particular, porque sabemos que estamos em grande segurança, é por sabermos que podemos dar o primeiro caso positivo para Portugal. Isso sim é uma grande adrenalina. Não há medo, há respeito porque garantimos todas as regras de segurança”, conta Ana Pelerito. É especialista em biossegurança e biopreparação e uma das duas pessoas do INSA que analisou as amostras dos 15 doentes suspeitos de estarem infetados com ébola.

Hoje é a joia da coroa para situações emergentes como o ébola, marburg, varíola, a bactéria da peste negra, brucelose ou de ameaça de bioterrorismo como o antraz, o pó branco que depois do ataque de 11 de setembro de 2001, aos Estados Unidos, amedrontou o mundo. O laboratório foi requalificado, tal como o outro que está no quarto piso dedicado ao diagnóstico da tuberculose. A paragem permitiu conhecê-lo por dentro e ver como tudo funciona como se se tratasse de uma situação real. Na passada quinta-feira voltou ao ativo. Agora só o pessoal autorizado pode entrar.

Dos melhores da Europa

A sala foi ampliada, instalaram-se novos sistemas de climatização, esterilizadores e uma câmara de segurança biológica de classe III, onde são inativados os vírus. “Portugal é um dos três países sem laboratório P4 que foi recomendado à Comissão Europeia pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças para fazer diagnóstico de ébola”, diz, orgulhosa Sofia Núncio, coordenadora da Unidade de Resposta às Emergências e Biopreparação, que participa como laboratório de referência em projetos europeus desde 2008 .

Duas vezes por ano fazem testes de qualidade com base em amostras enviadas por instituições internacionais, que permitem avaliar a sensibilidade e especificidade dos métodos que usam para o diagnóstico e tempo de resposta do laboratório. “Os nossos resultados têm sido a 100% corretos. Nos últimos três anos ficámos nos primeiros cinco lugares”, explica Fernando de Almeida, presidente do Instituto Ricardo Jorge, salientando que a rede europeia é composta por 32 laboratórios P3 e P4.

A arte de vestir e despir

Pelas mãos de Ana Pelerito e Rita Cordeiro, ambas especialistas em biossegurança e biopreparação, todas as amostras dos doentes suspeitos em Portugal durante a crise do ébola. “Somos as únicas que fazemos o diagnóstico do ébola, 24 sobre 24 horas”, conta Ana. Foram sextas, sábados, domingos, noite dentro para dar diagnósticos ao fim de quatro horas. Um trabalho mais duro do que muitos podem imaginar. Nunca está sozinha. Se entra ela no laboratório de paredes brancas e espaço amplo, fica Rita cá fora como elemento de segurança.

Uma, duas, três camadas de equipamento de proteção individual e uma check list com dezenas de pontos obrigatórios antes de entrarem. “Temos uma camada que é o “pijama” [fato tipo bloco operatório], uma segunda que é o fato de proteção integral e uma terceira que é uma bata descartável e uma touca”, explica Ana. Juntam-se óculos de proteção, viseira, máscara, dois cobre calçados e dois pares de luvas. São pelo menos 20 minutos para se vestirem e outros tantos para retirar a roupa, toda ela descartável e posteriormente destruída para evitar a contaminação.

O calor debaixo de toda aquela roupa é muito e a imagem é semelhante à captada pelas televisões dos médicos e enfermeiros que na libéria, Guiné-Conacri e Serra Leoa combateram a epidemia. “Equipamo-nos da mesma maneira que o médico e o enfermeiro que dão apoio ao doente e estão em contacto direto com ele se equipam.”

As amostras chegam ao laboratório em tripla embalagem. A primeira coisa a fazer é inativar o vírus. Ana coloca as mãos na câmara de segurança biológica de classe III. Chama-lhe câmara de luvas por causa dos quatro buracos com enormes luvas brancas por onde enfia as mãos. É lá que vai manipular as amostrar para matar o vírus. Só depois disso, as pode retirar para uma outra câmara onde fazem a extração do ácido nucleico. Quando já só têm o RNA (o equivalente ao ADN) é que testam a amostra para o diagnóstico. Resultado que conseguem em quatro horas.

Apesar das garantias de segurança, há um formigueiro na barriga quando se suspeita de um caso positivo. “Outro dos despistes que fazemos é do vírus lassa, que é de risco 4 como o ébola. com uma das amostra, no início estávamos com algumas dúvidas. A primeira coisa que fiz foi ligar à Rita: “Fizeste tudo? E disse: “Estou tranquila”. Não falhando nada, garantidamente não há risco nenhum”, recorda Ana.

Fonte: dn.pt

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