Artigo de opinião : Onde pára a enfermagem?
O que sobra de cada um de nós quando aguentamos o que não se entende como se aguenta?
O que pode acontecer quando se ultrapassam os limites e se fala num cansaço incomensurável?
Como mostrar que um braço partido, uma ferida, são tão visíveis e fundamentalmente mensuráveis, preocupantes, quanto uma dor aqui ou acolá, uma palavra, o tempo para dizer essa palavra, o tempo para levantar um diagnostico sensível que promova uma atitude?
Como se consegue ter tempo para perceber o outro se não houver tempo para o escutar?
Como se consegue uma voz única quando cada um é deparado com uma escolha de situação no seu processo contratual e de escolha de empregos?
Como explicar ao mundo que não se pode aceitar tudo de olhos vendados,à tarefa, porque há um grau de complexidade major quando cuidamos de alguém?
O enfermeiro é aquele ser que milagrosamente está lá. É a peça, o intercâmbio, a “miscelânea” de um tudo que se não fosse tão “tudo” nada seria igual.
O problema é que por isso mesmo o enfermeiro é uma pessoa que escolheu ser enfermeiro. Cabe tanta coisa no “ser enfermeiro” e na definição de enfermagem que quase diria que o enfermeiro é humano + sobre humano (porque vê essenciais invisíveis ao olho comum) + “tartaruga ninja” porque dribla no seu dia a dia situações inusitadas, quer por palavras, quer por gestos, e quantidade de gestos, dos mais diversos ser e estar que se conhece na acção.
Cada um, também, por suas individuais razões, está lá, a cuidar do outro.
Ser cabalmente sensível de conseguir ver o que mais ninguém vê, é tão proporcional como ser sensível para aceitar que nem todos o vão compreender no que vê, na necessidade de agir fora da rotina e de determinado modo.
Se o País não estivesse numa fase de “furos” nos bolsos, se me permitem, com uma riqueza tão mal distribuída, se calhar haveria espaço para se perceber a importância no investimento em alguém que cuida. Ser cuidado pelos enfermeiros não seria um privilégio de alguns, mas de todos, independentemente de altruísmo.
Cuidar não tem preço. Tê-lo-à apenas quando a vida, a dignidade humana, o tiverem.
A vida é única e os mágicos do cuidar vão fazendo esforços pelo seu altruísmo.
Todos sabem que são importantes e que sem eles, nada seria o mesmo. Sabem-no melhor quem deles já necessitou.
De algum modo todos reconhecem a sua importância.
Quando é que se vão observar decisões definitivas, sem vendas e em consonância, com aquilo que se sabe?
Lúcia Matias
Mestre em enfermagem
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