Um maço de tabaco por dia custa 50 mil euros ao fim de 30 anos

Os riscos para a saúde são muitos e os custos bastante elevados, mas há quase dois milhões de portugueses que fumam

Quem fumar um maço por dia, ao preço atual, gastará quase 50 mil euros em tabaco ao fim de 30 anos. Fumará mais de 200 mil cigarros. Mesmo sabendo destes custos e que o tabaco causa nove em cada dez cancros do pulmão, entre muitas outras doenças, há 1.78 milhões de portugueses com mais de 15 anos que continuam a fumar. No Dia Mundial do Não Fumador a pergunta que se coloca é: Porquê?

“O que leva as pessoas a continuar a fumar é a dependência. O tabaco contém nicotina, que provoca dependência física, psicológica e social. As pessoas aprenderam a fumar em determinados contextos e continuam a fazê-lo porque são dependentes”, refere Emília Nunes, diretora do Programa Nacional Para a Prevenção e Controlo do Tabagismo da direção-geral da Saúde. A maioria, prossegue, “tem dificuldade em deixar” de fumar.

Além do vício, não há uma perceção real dos custos. “As pessoas não têm noção dos gastos diretos e indiretos, por isso é que continuam a fumar. Não têm a noção que gastam tanto, porque isso faz parte da rotina. Só começam a ter essa perceção quando deixam de fumar e lhes sobra dinheiro na carteira”, indica Susana Marques, psicóloga no IPO de Lisboa. O mesmo se passa com os riscos para a saúde. “O fumador não pensa nisso se não tiver algum susto ou se vir algum familiar ou amigo doente. A perspetiva de saúde é muito longínqua”, frisa.

“Fumar mata”, mas, diz Emília Nunes, há uma “banalização” dessa ideia. “O tabaco repercute-se em todo o organismo humano”, lembra, destacando que não está só associado ao cancro do pulmão, mas também ao do estômago, esófago, fígado, bexiga, cólon e reto, a um agravamento do risco de cegueira, entre outras doenças. “O elevar da perceção de risco pode ser um estímulo para a pessoa deixar de fumar”, frisa a responsável pelo programa de tabagismo da DGS.

Os custos de deixar de fumar são, segundo Susana Marques, uma das razões pelas quais algumas pessoas não seguem para a cessação tabágica. Mas não se comparam aos do tabaco. Por exemplo, a primeira embalagem de Champix, medicamento sujeito a receita médica, custa cerca de 60 euros. Segundo Susana Marques, as duas seguintes ficam por aproximadamente 160 euros, o que dá um total de cerca de 220. “Mas o investimento é imediato”. No entanto, é de ressalvar que cerca de 90% das pessoas até consegue deixar de fumar sem ajuda médica.

Enquanto há alguns anos o tabaco era associado ao “glamour e às pessoas saudáveis”, cada vez mais surge como causador de inúmeras doenças. “Socialmente, esta mudança altera a forma como a sociedade olha para o tabaco. Para as novas gerações, é uma alteração importante”, destaca Susana Marques. As mudanças na lei também fizeram com que as pessoas ficassem mais “alerta”. Ressalvando que não tem dados sobre o impacto das imagens chocantes, a psicóloga diz que as fotografias “afligem um pouco as pessoas, perturbam.”

Apesar de todas as alterações que já foram feitas à legislação, ainda há muito a fazer para diminuir o consumo de tabaco em Portugal. Na proposta de Orçamento do Estado para 2017, está previsto um aumento de 3% no imposto sobre os cigarros, mas não será suficiente. “De acordo com os estudos feitos pela OMS, um aumento na ordem dos 10% poderia traduzir-se numa diminuição de 4% no consumo. Mas não se costuma aumentar tanto em Portugal”, lamenta Emília Nunes. O “reforço da promoção da literacia da população quanto aos riscos”, a garantia de cumprimento da “legislação de proibição de fumar, diminuindo as exceções” e o reforço “nas ofertas na área da cessação tabágica” são outras das medidas propostas pelo Programa Nacional da DGS.

De acordo com um trabalho feito pelo sociólogo Ricardo Antunes, as pessoas de classe social mais baixa, com menos escolaridade e com profissões manuais fumam mais e vivem em média menos dez anos do que as mais ricas.

Fonte: DN