Cuidados de Enfermagem ao Paciente com Pancreatite Aguda
Pancreatite aguda (PA) é a inflamação do pâncreas caracterizada pela ativação precoce das enzimas digestivas pancreáticas, podendo ocasionar a falência orgânica múltipla. A PA é descrita como a autodigestão do pâncreas pelas próprias enzimas exócrinas produzidas, em especial a tripsina.
A PA é um grave problema e em aproximadamente 80% dos casos sua etiologia está associada à doença biliar litiásica ou ao etilismo. Outras causas menos comuns incluem infecções bacterianas ou virais. Em aproximadamente 10% dos casos ocorre a pancreatite idiopática aguda e, em menor proporção, a pancreatite hereditária.
O risco de falência múltipla dos órgãos e de mortalidade aumenta com a idade, visto que pessoas mais jovens desenvolvem complicações locais. A PA na maioria das vezes é autolimitada ao pâncreas e com mínima repercussão sistêmica. A forma leve apresenta boa evolução clínica e baixo risco de mortalidade. Entretanto, em aproximadamente 10% a 20% dos casos, o quadro é mais intenso e com grande repercussão sistêmica, podendo levar a índices de mortalidade de até 40%. A PA grave é acompanhada de disfunção orgânica ou presença de complicações locais como abscesso, pseudocisto ou necrose.
Os critérios de Ranson são bastante utilizados para definição diagnóstica da PA grave (Figura 1).
Diagnóstico
- Exame clínico
- Exames complementares: laboratoriais
- Leucocitose e hiperglicemia moderada são os principais achados laboratoriais da resposta inflamatória sistêmica, e elevação das transaminases. Uma forte suspeita de etiologia biliar ocorre com a elevação significativa da ALT (>150 UI/L). Outros exames solicitados são: dosagens de amilase e lipase séricas.
- Exames de imagem.
- Tomografia computadorizada helicoidal – os principais achados são aumento do órgão e gordura peripancreática. Já com o uso de contraste venoso é possível identificar áreas hipocaptantes no parênquima pancreático que são sujeitas a necrose.
- Colangiorressonância – indicada em casos em que há icterícia associada/suspeita de coledocolitíase.
- Ultrassonografia endoscópica – indicada a pacientes com contraindicação a colangiorressonância.
Manifestações
- Dor abdominal intensa – considerado o principal sintoma.
- Dor no mesoepigástrio – pode ser acompanhada de distensão abdominal, massa abdominal palpável e pouco definida, pode ocorrer diminuição da peristalse e vômito.
- Defesa abdominal – o abdome torna-se rígido ou em tábua (atenção a essa situação, pois se trata de um sinal de alerta indicando peritonite).
- Esquimose no flanco (sinal de Grey-Turner) ou periumbilical (sinal de Cullen).
- Insuficiência renal crônica.
- Angústia respiratória e hipoxia.
- Cianose.
- Pele fria e pegajosa.
- Taquicardia.
- Hipotensão arterial com hipovolemia e choque.
- Náusea, vômitos, febre, icterícia, agitação e confusão mental.
Cuidados de Enfermagem
Dor aguda e conforto prejudicado
- Administrar analgésicos conforme prescrição médica – recomendação com agentes opioides por via parenteral incluindo morfina, fentanila e hidromorfona.
- Avaliar com frequência a dor e a efetividade das intervenções medicamentosas.
- Suspender os líquidos orais para reduzir a formação e a secreção de secretina.
- Manter o paciente em repouso no leito para redução da taxa metabólica e reduzir a secreção das enzimas pancreáticas.
- Relatar ao médico se houver aumento de dor, pois pode ocorrer hemorragia pancreática, ou a quantidade do analgésico pode ser inadequada.
- Realizar aspiração nasogátrica para remoção de secreções gástricas.
- Realizar higiene e cuidados orais com frequência, para reduzir o desconforto causado pela sonda nasogástrica e aliviar o ressecamento da boca.
Padrão ventilatório ineficaz
- Avaliar o estado respiratório com frequência, oximetria de pulso e gasometria arterial.
- Orientar o paciente sobre as técnicas de tosse e respiração profunda.
- Manter o paciente na posição de semi-Fowler para redução da pressão sobre o diafragma.
Nutrição desequilibrada: menos do que as necessidades corporais
- Realizar a pesagem diária do paciente e monitoramento dos resultados de exames laboratoriais.
- Avaliar o estado nutricional e atentar-se aos fatores que alteram as necessidades nutricionais.
- Monitorar o nível sérico de glicose a cada 4 a 6 horas.
Risco de integridade da pele prejudicada
- Procurar por sinais de infecção ou inflamação na pele.
- Realizar mudança de decúbito sempre que necessário.
Risco de desequilíbrio eletrolítico ou Risco de volume de líquidos deficientes
- Avaliar o estado hidreletrolítico, atentando-se ao turgor da pele e a umidade da mucosa.
- Medir a ingesta e o débito de líquidos (incluindo débito urinário, secreções nasogástricas e diarreia).
- Verificar se há elevação de temperatura corporal e aumento da drenagem das feridas.
Risco de Choque
- Transferir o paciente para a unidade de terapia intensiva e monitorar rigorosamente os sinais vitais, inclusive o monitoramento hemodinâmico.
- Administrar líquidos IV, medicamentos e hemoderivados prescritos.
- Auxiliar com o uso de um ventilador mecânico, prevenção de complicações adicionais e cuidados físicos e psicológicos.
- Monitorar os sinais precoces de disfunção neurológica, cardiovascular, renal e respiratória.
Cuidado domiciliar e comunitário
- Orientar o paciente sobre o autocuidado.
- Explicar sobre modificações do estilo de vida, se necessário.
- Orientar sobre a necessidade de evitar alimentos gordurosos e consumo de bebida alcoólica.
- Fornecer orientações verbais e por escrito sobre os sinais, sintomas e complicações potenciais que devem ser passadas ao médico.
Cuidado continuado
- Avaliar o estado físico e psicológico do paciente e a adesão ao acompanhamento terapêutico.
- Avaliar a situação domiciliar.
- Reforçar as orientações sobre o consumo de líquidos e alimentos.
- Reforçar a necessidade de evitar o consumo de bebida alcoólica, se necessário, informar sobre grupos de apoio.
REFERÊNCIAS
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SMELTZER et al. Brunner & Suddarth, Manual de enfermagem médico-cirúrgica / revisão técnica Sonia.Regina de Souza; tradução Patricia Lydie Voeux. – 13. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
Fonte: Enfermeiro Aprendiz
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