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“Os médicos obstetras e os enfermeiros parteiros dão um apoio importante, mas quem tem o papel principal é a grávida”

A nível de pediatria também há sempre alterações e a instituição de novos procedimentos. Uma mãe que não tem sintomas associados, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), pode fazer pele com pele com o seu bebé, pode na mesma amamentar, e desde que tenha equipamento de proteção individual – usar a máscara e fazer a higienização das mãos – pode tocar nele.

Se houver uma mãe que esteja infetada com a COVID-19, aí sim, não pode fazer contacto pele a pele.

Quais as principais dúvidas dos casais neste momento?

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Sinto que há casais que estão muito informados, que sabem muito. E isso nota-se nas aulas: às vezes começo a falar de um assunto e os casais sabem mais do que eu, sobretudo na questão dos acompanhantes: se os pais podem ou não estar presentes, porque vão aos hospitais, às consultas, às ecografias e informam-se. Eu não estou em todos os hospitais, só conheço a realidade do meu e algumas informações chegam-me através de colegas.

Mas depois temos o outro lado, das pessoas que leem tudo, que veem tudo, que absorvem tudo. Porque estamos em casa e temos a televisão ligada o dia todo. Porque temos as redes sociais, que foram muito nossas amigas durante o isolamento, mas que também, às vezes, não são a melhor fonte para recolhermos informação. Temos de ter algum cuidado com isto.

Sim, os casais estão mais informados, mas nem sempre a informação que têm é a mais fidedigna ou a que deveria ser. Isto porque nem tudo o que nós lemos é o que está realmente a acontecer.

Por isso o meu conselho é procurarem informação junto das organizações mais importantes, como a OMS e a DGS, que lançaram muita coisa e foram sempre renovando os seus websites.

Da parte do Centro, os casais podem ter consultas de enfermagem, que são gratuitas para quem faz o curso connosco, e são para tudo o que os casais quiserem. Desde que começou a COVID-19, tenho feito muitas consultas em live streaming a grávidas e casais e estamos o tempo que for preciso a falar. Neste momento também recebemos muito mais mails do que recebíamos antes e temos tentado dar essa resposta.

Como tem corrido esta experiência, enquanto profissional de saúde?

Nós estamos numa fase em que há receios da parte dos profissionais. E quando se lida com mães e com bebés da área da pediatria e da neonatologia, esta é uma área muito sensível. Não há muitos estudos sobre isto. Falamos muito dos adultos, dos idosos, mas ainda há poucos estudos com os bebés.

E depois acontece isto: como não sabemos o que é melhor, o que é mais adequado, vamos para o zero. Enquanto não se souber tudo, tanto do lado dos profissionais como do lado de quem está a gerir as situações, leva a que aconteça isto: quando temos dúvidas mais vale não fazer do que estar a fazer e depois estar a prejudicar.

As crianças não escolhem quando nascem e para quem apanhou aquela fase muito inicial da COVID-19 foi muito difícil a reestruturação, o tentar adaptar. Mas, no fundo, o mais importante é que nasça um bebé saudável e que a mãe fique bem com todos os cuidados que foram prestados. O que importa no final é termos um resultado positivo.

O que é que os casais devem priorizar depois do nascimento do bebé, face ao momento estamos a viver?

Quando se tem um bebé recém-nascido em casa, sobretudo nesta situação, temos de o proteger muito. E além de o proteger, temos de proteger aquela puérpera, para reduzir o risco de possível transmissão para o seu bebé. E também temos de proteger aquele pai porque depois vão estar todos em casa, a partilhar o mesmo espaço.

Com um recém-nascido em casa tem de se fazer a proteção individual que já se faria: higienização das mãos e higienização dos locais onde está o seu bebé, de X em X tempo.

Para quem tem um recém-nascido em casa, e aproveito para reforçar esta parte: o melhor método de alimentação é o leite materno. Quem tiver um bebé, pode e deve continuar a amamentá-lo. O leite materno é para ser dado em exclusivo e, se as mães quiserem, durante os primeiros seis meses de vida. Nesta fase da COVID-19, que é uma infeção, ainda é mais importante dar-lhe este leite para tentar prevenir algum aparecimento de outras doenças.

Nesta fase também é importante manter alguns procedimentos com os recém-nascidos…

Apesar desta situação e de estar tudo muito diferente e modificado, não se podem deixar de fazer cuidados básicos ao bebé: não se pode deixar de fazer o teste do pezinho entre o terceiro e o sexto dia, ele tem de ser visto por um pediatra até aos primeiros 28 dias de vida, sendo que o ideal é que seja visto até aos primeiros dez, e tem de fazer as vacinas.

O Plano Nacional de Vacinação existe e não é por existir a COVID-19 que se vai deixar de o seguir. É graças a ele que estamos a prevenir muitas doenças, que continuam a aparecer. As vacinas têm de continuar a ser feitas. Mas agora os pais têm de perceber que quando vão à vacina, ao pediatra, não vão ter as condições que tinham antes da COVID-19.

Que mudanças de comportamento é que os pais devem ter?

Imaginemos este cenário: antes, se eu fosse fazer uma vacina ao meu bebé, ia eu e o meu marido, 30 minutos antes, sentávamos na sala de espera, entrávamos, a enfermeira falava um pouco connosco, fazia aquilo que tinha de fazer, estávamos à vontade, voltávamos para o carro e seguíamos.

Isto agora não pode acontecer. O que temos de fazer é: ligar, fazer uma marcação, se não conseguirmos [por telefone], o meu marido tem de ir lá fazê-la. Quando formos fazer o teste do pezinho ou a vacinação, só vai um de nós. O importante é ir o pai ou a mãe, quem quiserem, não precisa de ser a mãe para tudo. Se a progenitora tiver passado por uma cesariana e estiver com dificuldades, pode ficar no carro, o pai vai e depois regressa. E se for possível, aquele bebé vai precisar de ser amamentado, damos de mamar no carro, mudamo-lo e seguimos viagem.

Por exemplo, no Centro [Pré e Pós-Parto] estamos a fazer os testes do pezinho e estamos a pedir que só vá um dos pais, para proteção da família e também para nossa proteção, enquanto profissionais de saúde.

A mensagem que gostava de deixar é que é importante continuarmos a manter os cuidados com os bebés como antes de haver a pandemia. Tudo aquilo que nós definíamos como prioritário para os bebés fazerem, é importante que seja mantido.

Que alternativas existem para estes procedimentos normais?

Se os casais ficarem mais de três dias nos hospitais, podem fazer o teste do pezinho no hospital. Imaginemos que foi uma cesariana e que ficou três dias no hospital. Pode fazer o teste lá, é uma possibilidade.

Tentamos preconizar que os casais fiquem menos tempo no hospital mas imaginemos que o casal tinha alta às 17h? É tentar que se façam os três dias do bebé para fazer o teste do pezinho no hospital.

Também podem fazê-lo no Centro Pré e Pós-Parto [em Lisboa]. Claro que estamos a dar prioridade aos casais que fazem o curso connosco, mas é uma possibilidade. E depois há alguns centros de saúde que fazem visitas domiciliárias e quando a enfermeira vai a casa, faz o teste do pezinho.

Qual a importância de um curso pré e pós-parto para um casal?

Para o pré-parto, reduz a ansiedade. Este é o primeiro ponto. Porque quando nós sabemos o que nos vai acontecer, normalmente para a maior parte das pessoas, isto funciona muito bem. Reduz a ansiedade e o stress do casal. Claro que tudo aquilo que nós transmitimos nas aulas, não vai acontecer de maneira exatamente igual.

Para as grávidas, eu não gosto muito de usar esta palavra mas vou usá-la, dá-lhes uma sensação de empoderamento, no sentido em que tenho estas opções e tendo-as em conta, sei o que é que eu posso fazer. Estou aqui no meu trabalho de parto mas eu sei que posso levantar-me da cama e mobilizar o corpo, sei como ajudar o meu bebé. Sei que estou em casa e começo a ter contrações e não tenho de ir a correr para o hospital, posso ficar em casa a controlar.

créditos: Arquivo pessoal

Para o casal, no pré-parto, faz com que ambos oiçam a mesma coisa, estamos todos no mesmo comprimento de onda. E sinto a importância disto depois, no pós-parto. Por exemplo, na amamentação, na aula quatro falamos sobre o aleitamento materno e depois vamos a uma consulta e muitas vezes é o pai que reforça, “mas lembras-te que a Débora tinha dito que isto era assim, assim e assim”? Se as pessoas ouviram a mesma coisa, estão a pensar na mesma coisa. E mesmo ouvindo a mesma coisa e não estando em acordo, discutem sobre isso, mas são os dois. Muitas vezes falta ao casal pensarem a dois. Na gravidez, no parto e no pós-parto. Neste ponto a preparação é imprescindível tanto para a grávida, como para o casal, para a redução do stress.

Considero importante que os cursos de preparação para o parto tenham uma vertente multidisciplinar: com enfermeiros especialistas em saúde materna mas que os casais também tenham a possibilidade de falar com fisioterapeutas, pediatras, com médicos. Faz sentido ser um curso de grupo para os casais discutirem as suas ideias uns com os outros. E não faz sentido ser apenas um curso teórico.

Eu, que trabalho num hospital e já trabalhei num serviço de internamento de puerpério, vejo que é totalmente diferente para um casal que fez um curso de preparação para o parto para um que não fez esse curso porque é um casal que vai muito mais inseguro.

Imaginemos: em Portugal, se tivermos um parto vaginal estamos dois dias internados, se for uma cesariana estamos três. O que é que um casal que não fez um curso de preparação pode aprender em dois ou três dias? Se saírem de lá já a saberem o que é a subida de leite e o que têm de fazer em casa, é muito bom! Quanto mais falar sobre o sono, sobre as cólicas, sobre o transporte do bebé.

Quando fazemos as aulas estamos a preparar-nos para aquilo que vai acontecer: para o que é normal e para o que não é normal.

Que diferenças nota nos casais que já tenham tido um filho?

O que eu sinto muito é que do primeiro para o segundo filho aquele casal [que opta por fazer o curso] não teve um parto em que tenha tido muita participação ou que fizerem tudo aquilo que lhes foram dizendo e queriam ter tido uma atitude mais ativa e procuram-nos para saber “o que é que posso mudar, o que posso fazer de diferente”.

Nunca ninguém se recusa a ter mais informação sobre a amamentação porque, como é um dos grandes desafios do pós-parto, mesmo nas mães em que tenha corrido super-bem, querem sempre ter mais informação. Nos cuidados ao bebé depende um bocadinho da idade dos bebés. Se um casal tiver tido um filho há sete anos, se calhar querem recordar o que aconteceu no início.

Como lidar com as visitas neste momento?

Nesta situação de fase inicial da COVID-19, as visitas devem ser limitadas. Apesar de ter havido o levantamento do Estado de Emergência, as visitas devem continuar a ser limitadas. As indicações que passo são: vamos tentar que os nossos pais vão a nossa casa uma vez por semana, com medidas de proteção – com máscara, fazendo a lavagem das mãos, descalçarem-se, tirar a roupa da rua. Mas não precisam de ir a nossa casa todos os dias porque eles continuam a ter a sua vida normal. Por isso, o mínimo de contacto que houver neste momento é o que é suposto acontecer. Claro que o casal não tem de ficar em isolamento, mas que tem de se proteger, tem.

Quais considera serem os grandes desafios do pós-parto?

A amamentação é um grande desafio, que pode ser superado, mas é preciso ajuda.

O sono. Os pais costumam ter muitos problemas com o sono mas às vezes não são por causa dos bebés. Eles dormem, não acontece é nas horas que queremos. E nós estamos habituados a dormir a noite toda e por isso é que sofremos com a privação do sono. Mas esta situação acontece porque quando o bebé está a dormir durante o dia, os pais estão a fazer outra coisa, em vez de estarem a descansar.

Há muitos pais que têm problemas com as cólicas ou desconforto abdominal dos bebés. E outra situação que acontece é o casal tentar filtrar aquilo que os outros dizem. Isto é muito difícil com um recém-nascido porque todas as pessoas, sobretudo a família mais próxima, quer dizer alguma coisa. E temos um casal confuso, com problemas de sono e a lidar com a amamentação, que tem de gerir esta situação.

E depois, ser pai e ser mãe é um papel muito difícil. É uma nova etapa da vida, em que as pessoas deixam de ser quem são e passam a ser a mãe de, o pai de… Esta desconstrução leva um pouco de tempo. Mas tudo se consegue.

Fonte: Lifestyle Sapo

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