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SNS Em Rutura: “Hà cada vez mais pessoas de 40 anos a precisar de Cuidados Intensivos. Quem Escolhemos Salvar?”

Desde o início do fim-de-semanam, dia em que o recorde de mortos e internamentos foi atingido, que a capacidade dos principais hospitais públicos portugueses está mesmo a chegar ao limite. Nos hospitais de Santa Maria, em Lisboa, e Torres Vedras chegaram imagens de filas formadas pelas ambulâncias à porta das urgências, com doentes com covid-19.

[wpdiscuz-feedback id=”jv4zcs9hfx” question=”O que achas disto?” opened=”0″]O diretor do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), Daniel Ferro, disse, este sábado, que o hospital de Santa Maria está em “sobre esforço”, que a adaptação aos picos de atendimento “tem limites” e que está a trabalhar além da capacidade instalada.[/wpdiscuz-feedback]

Também este sábado, o Hospital Garcia de Orta, em Almada, referiu em comunicado que tinha atingido a sua capacidade máxima e alertou para o risco de “pré-catástrofe”. “Hoje, dia 16 de janeiro de 2021, e em enfermaria, o hospital volta a registar um crescimento dos doentes internados positivos para a infeção por SARS-Cov-2 e a ajustar a lotação afeta à covid-19, de modo a acomodar a necessidade do número de doentes internados positivos”, informou o hospital.

Outros hospitais da região de Lisboa estão, também, no limite ou perto de lá chegar. E as previsões são de que o cenário vá piorar muito. “Em Lisboa, com as ambulâncias, começa a ver-se o que se passou em Nova Iorque, uma cidade tão desenvolvida que não tinha como escoar os cadáveres. Acredito que vai acontecer o mesmo cá. As pessoas não estão a perceber o que se está a passar”, diz à VISÃO António Marinho, diretor da Unidade de Cuidados Intensivos do Centro Hospitalar Universitário do Porto, que garante que o que se viu acontecer em Itália, no início da pandemia, vai passar-se agora em Portugal, já que os serviços “estão no limite”. “Nós, médicos, vamos ter de começar a escolher quem salvamos, quem mandamos para os Cuidados Intensivos”, lamenta.

Tomás Lamas, médico intensivista do Egas Moniz e da Cuf Tejo, também está muito preocupado com o cenário a que tem assistido diariamente. “Há cada vez mais pessoas de 40 anos a precisar dos Cuidados Intensivos. Como vamos fazer quando, à nossa frente, estiver uma pessoa de 40 anos diabética e outra obesa? Quem escolhemos salvar?”, desabafa à VISÃO.

“Não há como escondê-lo, a situação é muito preocupante”, admite, também, o coordenador de várias Unidades de Cuidados Intensivos Cirúrgicos (UCIC) do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO), António Pais Martins.

O número de vagas em enfermarias e em cuidados intensivos “tem vindo a escassear nos últimos dias” devido à elevada afluência de doentes aos hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo. “As imagens que vamos vendo da quantidade de ambulâncias às portas das urgências revelam uma pressão enorme sobre os serviços”, constata Pais Martins. “As urgências são a verdadeira linha da frente no presente momento”, acrescenta.

Os números da evolução da pandemia confirmam os relatos desesperados dos médicos nacionais. Portugal ultrapassou o Reino Unido em novos casos diários por milhão de habitante.

“Estamos esgotados e não estamos a ver como isto vai parar”

“Na realidade, alguns serviços já estarão a enviar para os Cuidados Intensivos só os doentes com melhor hipótese de sobreviver e não todos como sucedia antes, porque não há camas”, afirma Tomás Lamas.

No Hospital de Santo António, no Porto, sobram apenas 8 de 76 camas que existem nas Unidades de Cuidados Intensivos, que foram sendo ocupadas com doentes Covid e não Covid. “Os hospitais só ainda têm conseguido dar resposta porque, nos últimos meses, foi-se reforçando a sua capacidade. Nas unidades de Cuidados Intensivos, quase triplicou a capacidade em todo o País”, explica António Marinho.

E se, antes, a taxa de mortalidade nas UCI era de 18%, o valor está, neste momento, nos 40%. “Das pessoas que são ventiladas, quase metade morre. Das que não morrem, 70% ficam sem qualidade de vida, em situações miseráveis. Mas o que se passa nos Cuidados Intensivos parece que está escondido, como antigamente estavam os lares e o que lá se passava”, lamenta o especialista.

“É exasperante receber telefonemas de outros médicos desesperados, a pedirem vagas para um doente que precisa de Cuidados Intensivos, e eu ter de lhes dizer que não há”, diz Tomás Lamas.

Neste momento, o CHLO dispõe de 26 camas de cuidados intensivos para doentes infetados com o SARS-CoV-2 no Hospital São Francisco Xavier e mais 11 no Egas Moniz. Este domingo, todas as 37 camas estavam ocupadas.

“Os planos de contingência e de catástrofe do centro hospitalar vão, hipoteticamente, implicar a abertura de mais camas, nomeadamente no hospital Egas Moniz”, avança Pais Martins, “E ainda conseguimos abrir cerca de uma dezena de camas de cuidados intensivos no São Francisco Xavier”, contabiliza.

“Está a ser feito um enorme esforço de planeamento e de alocação de profissionais”, nota, antes de acrescentar: “Uma cama de cuidados intensivos é muito mais do que um ventilador, implica uma organização funcional e uma alocação de recursos humanos e materiais de difícil execução”.

Devido à escassez de médicos de Medicina Interna nas enfermarias, que não “cobrem” a quantidade de doentes que chegam diariamente, tem-se recorrido a médicos menos diferenciados, como neufrologistas ou cirurgiões, que auxiliam no tratamento dos doentes. Mas todos os profissionais estão demasiado cansados. “Estamos esgotados e não estamos a ver como isto vai parar”, afirma António Marinho.

O pior, afirma Tomás Lamas, será quando começarem a faltar os ventiladores não invasivos, utilizados para estabilizar os doentes fora dos Cuidados Intensivos, ou seja, quando começar a faltar o oxigénio.

A situação também está a complicar-se no Hospital de Cascais, onde Ricardo Baptista Leite, médico especializado em infecciologia, deputado e vice-presidente da bancada do PSD, faz trabalho voluntário como médico desde o início da pandemia. Na sua conta de Twitter, referiu que a situação não estava “nada fácil”.

Umas horas depois, lamentou novamente a situação vivida nos hospitais. “Nunca vi tanta gente a morrer em tão curto espaço de tempo como nestas 12 horas de urgência”, pode ler-se na sua publicação.

“Estamos em confinamento e não há confinamento nenhum”

No primeiro fim-de-semana de confinamento, muitas pessoas aproveitaram o sol de Lisboa para irem passear. Viu-se gente sem máscara e com pouco distanciamento físico, um contraste muito grande relativamente ao primeiro confinamento geral, em março de 2020. As campanhas presidenciais continuaram na rua em ações por todo o País.

“Estamos em confinamento e não há confinamento nenhum”, afirma António Marinho. “O vírus está cada fez mais indestrutível. Já teve três fortes mutações e, um dia destes, a vacina deixa de as cobrir e teremos de recomeçar tudo de novo. Estamos a perder a luta contra o vírus. Tem de se fechar mesmo tudo. Tudo”, garante.

Tomás Lamas afirma, ainda, que se chegou ao momento em que “a catástrofe está a acontecer à nossa frente e as pessoas não reagem”.

 

Fonte: Visão

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