Atualidade

Joaquim Neves: “As mulheres devem de adquirir o máximo de massa óssea antes da menopausa”

A falta de estrogénios é uma das principais causas da osteoporose, tornando-se mais alarmante na idade da menopausa. O ginecologista e membro da direção da Sociedade Portuguesa da Contraceção, Joaquim Neves defende que entre os 30 e 40 anos “é o ideal atingir o máximo de massa óssea porque a partir dessa idade começa a perda progressiva”. Para o especialista, é essencial “acentuar a necessidade de iniciarmos a investigação da fragilidade óssea”, pois “é um aspeto que qualquer profissional de saúde que trabalha na área dos cuidados da mulher deve ter atenção”. 

HealthNews (HN)- Por que razão, sendo ambos os géneros afetados pela doença, existe uma maior incidência no género feminino do que no másculo?

Joaquim Neves (JN)- A fragilidade óssea é uma condição clínica tipicamente das mulheres mais velhas. Quando não existir nenhuma outra causa, a forma primária é a mais frequente e é típica da mulher na pós-menopausa. A proteção da massa óssea das mulheres é promovida pelos estrogénios e nesta fase da vida as mulheres perdem estas hormonas. Os estrogéênios regulam o metabolismo dos ossos e é uma regulação com múltiplos efeitos. Portanto, são cruciais no metabolismo ósseo da mulher. 

HN- Mas essa perda de produção dos estrogénios também ocorre nos homens a partir de uma determinada idade…

JN- Correto, mas não é tanto como nas mulheres e é mais tarde. Enquanto as mulheres têm um episódio a partir do qual elas podem sofrer a consequência do hipoestrogenismo, no homem é mais tarde e não é de forma tão acentuada como no sexo feminino. 

HN- De que forma algumas condições clínicas, como as doenças digestivas, a terapia contra o cancro da mama e da próstata e os níveis baixos de testosterona constituem risco para o desenvolvimento da osteoporose?

JN- As mulheres e os homens, mas particularmente o género feminino devem que adquirir o máximo de massa óssea antes da menopausa. Entre os 30 e 40 anos é o ideal atingir o máximo porque a partir dessa idade começa a perda progressiva da massa óssea. Quando as mulheres estão na pós-menopausa esta perda acelera muito mais. 

Como é óbvio se a mulher tiver dificuldade em absorção do cálcio não irá atingir o máximo da massa óssea. O mesmo acontece se fizerem medicamentos que interferem com o metabolismo ósseo e que provocam aceleração na destruição do osso. 

HN- Existem outros riscos, para além daqueles que já mencionou, que estejam associados à osteoporose?

JN- Os medicamentos para a doença da tiroide, muito atrativa nas mulheres, podem ter forte impacto na saúde do osso. Os medicamentos para tratar o vírus por imunodeficiência humano (VIH) e os medicamentos como a cortisona podem diminuir a massa óssea. As mulheres têm muita tendência a ter doenças autoimunes. 

A falta de exercício físico é um outro fator de risco. A diminuição do hábito de marcha é prejudicial.

Muitas mulheres adotam algumas dietas que podem ter alguma consequência no aporte correto do cálcio para ser absorvido e melhorar a massa óssea. 

HN- Considera que as pessoas estão sensibilizadas para esta realidade?

JN- Não, a maior parte das pessoas não estão sensibilizadas e infelizmente alguns profissionais de saúde podem não estar também. Devemos preocupar-nos em estabelecer em que mulheres e em que idade temos de começar a investigar alterações da massa óssea. Globalmente, aos 65 anos é que se promove essa investigação. No nosso país temos um instrumento que está disponível de forma gratuita na Internet e que é o algoritmo FRAX. Esta ferramenta está estabilizada para Portugal e com esse algoritmo podemos integrar um conjunto de aspetos clínicos e um resultado que nos indica se o doente tem ou não risco de fratura. Caso não tenha, ao fim de cinco anos devemos repetir este cálculo. 

HN- O que deve ser feito para conseguir consciencializar as pessoas para a importância desta avaliação?

JN- É importante haver mais informação aos profissionais de saúde sobre quando é que devem interessar-se e detalhar a investigação da fragilidade óssea. Às vezes o que acontece é que esta avaliação é feita demasiado cedo, mas há também quem não o faça. 

HN- Um estudo da Universidade do Minho alerta que o consumo de tabaco e de álcool aumentou no segundo confinamento. Tendo em conta que o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas são fatores de risco para a osteoporose podemos prever que o número de doentes aumente num futuro próximo?

JN- O metabolismo ósseo demora muito tempo a expressar as suas consequências. Se calhar daqui a dez anos podemos analisar e tentar perceber o que terá acontecido para que as pessoas cheguem a nós com fragilidade óssea. Nessa altura poderemos levantar a pergunta “será que essas pessoas, durante a pandemia, passaram a ter mais tabagismo e consumir mais álcool?”. Esta é uma questão futurística precisamente porque a massa óssea demora muito tempo a ter as suas consequências, a não ser quando utilizamos medicamentos que o deterioram de forma agressiva. 

HN- Uma nota final

JN- É importante acentuar a necessidade de iniciarmos a investigação da fragilidade óssea, geralmente nas mulheres mais idosas (com mais de 65 anos). É um aspeto que qualquer profissional de saúde que trabalha na área dos cuidados da mulher deve ter atenção. 

Entrevista por Vaishaly Camões

 

Source link

Looks like you have blocked notifications!

Segue as Notícias da Comunidade PortalEnf e fica atualizado.(clica aqui)

Portalenf Comunidade de Saúde

A PortalEnf é um Portal de Saúde on-line que tem por objectivo divulgar tutoriais e notícias sobre a Saúde e a Enfermagem de forma a promover o conhecimento entre os seus membros.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Botão Voltar ao Topo
Keuntungan Bermain Di Situs Judi Bola Terpercaya Resmi slot server jepang
Send this to a friend