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Diabetes: porque devemos esperar um futuro melhor

A Diabetes Mellitus é um dos principais problemas de saúde no mundo actual. Uma doença não transmissível que afecta mais de um milhão de portugueses e que afectará muitos mais nas próximas décadas.

Podemos e devemos contrariar esta tendência promovendo estilos de vida mais saudáveis, mas também podemos e devemos intervir para identificar precocemente as pessoas atingidas por esta doença, promovendo estratégias de tratamento eficazes e seguras que limitem o seu impacto.

Há mais de vinte anos, quando comecei a cuidar de pessoas com Diabetes, as opções de vigilância e de tratamento eram bastante restritas. Eram, certamente, muito melhores do que nas décadas anteriores, mas ainda bastante restritas, o que nos colocava, a nós profissionais e aos doentes, perante decisões difíceis e perante opções menos ‘simpáticas’ ou mais exigentes.

Os objectivos de ‘controlo’ da Diabetes (glicemia e complicações) acabavam por ser menos ambiciosos perante tal realidade, embora já então soubéssemos que um bom controlo glicémico se traduziria numa redução da ocorrência e da gravidade das complicações. Assim, sabíamos para onde devíamos ir mas tínhamos dificuldade em lá chegar.

Mas desde então o panorama mudou. E muito.

Não foi uma mudança súbita. Foi, e continua a ser, uma revolução firmemente assente em inovações em vários domínios, na integração de tecnologias e na progressiva acessibilidade destas tecnologias às pessoas com Diabetes que delas precisam.

Há, pois, razões para estarmos optimistas.

Se há duas décadas o tratamento da Diabetes estava limitado a escassas classes de fármacos, entre os quais as insulinas, na actualidade dispomos de novas classes e de melhores alternativas. Embora na sua maioria dirigidos à Diabetes tipo 2, alguns têm potencial na Diabetes tipo 1, ainda que aqui a sua aplicabilidade esteja em definição.

E não se trata apenas de termos mais opções, mas de termos opções diversificadas, com bons perfis de actuação e segurança. Estes novos fármacos já demonstraram um conjunto de efeitos favoráveis que transcendem o controlo glicémico e se estendem à redução de eventos cardiovasculares e renais, proporcionando até redução da mortalidade e alterando radicalmente o percurso de tratamento da pessoa com Diabetes.

As classes de fármacos mais antigas não deixam de ter o seu lugar, mesmo que cedendo terreno, mas o facto de termos várias opções permite uma melhor adaptação do tratamento à pessoa, conforme as suas circunstâncias e as suas preferências dentro do leque disponível.

É também da diversidade que surgirá a melhor abordagem deste problema, uma abordagem que responda à natureza multifacetada da Diabetes e da pessoa com Diabetes.

Monitorizar, automatizar, simplificar

A Monitorização Contínua da Glicose (MCG) é uma novidade quase sem o ser. Sistemas de MCG deram os seus primeiros passos há vários anos e, uma vez ultrapassadas algumas dificuldades técnicas, tornou-se possível assistir em tempo real (ou quase) às excursões da glicose, proporcionando um filme do que anteriormente só estava disponível como (escassas) fotografias.

Só mais recentemente estas soluções se concretizaram de forma mais generalizada, fiável e prática, e têm vindo a alterar profundamente a nossa compreensão e abordagem da Diabetes.

Inicialmente proposta para os doentes sob tratamento insulínico intensivo, sobretudo com Diabetes mellitus tipo 1, a MCG tem vindo a ser equacionada com potencial interesse em alguns doentes com esquemas menos intensivos.

Por sua vez, os dispositivos de Infusão Subcutânea Contínua de Insulina (ISCI) – conhecidos por ‘bombas de insulina’ – têm registado um progresso notável nos últimos anos. Esta evolução tem sido incremental mas acelerada, através do aumento da sua fiabilidade, aplicabilidade e segurança.

Equipamentos mais avançados, como os sistemas fechados (closed-loop) e o chamado ‘pâncreas artificial’, apresentam-se já como realidades clínicas, embora ainda de aplicação e disponibilidade muito limitada. Os ensaios têm demonstrado êxito terapêutico, a par da boa receptividade por parte de doentes e profissionais, conciliando a melhoria do controlo com o potencial de redução do fardo da doença.

Importa que haja a vontade e a capacidade financeira dos sistemas de saúde para esta aposta na saúde.

A convergência para sistemas automatizados de administração de insulina está a ser possibilitada pela integração de dados e equipamentos, nomeadamente dos valores da MCG, dos dados da administração da insulina (e outras hormonas, eventualmente) e, idealmente, de outros dados relevantes como a ingestão de alimentos e a actividade física.

Importa aqui considerar que algumas áreas serão passíveis de maior miniaturização, como os processadores/circuitos electrónicos, enquanto outras beneficiam de desenvolvimento exponencial, como é o caso dos algoritmos e dos sistemas de inteligência artificial, mas outros há que se encontram mais limitados na sua evolução pela sua circunstância física, como sejam os reservatórios e os sistemas de administração.

De referir igualmente o contributo de soluções tecnológicas ‘intermédias’, como as smartpens, que registam automaticamente a dose de insulina administrada e que representam um passo simples no sentido da atenuação do impacto da doença e do seu tratamento, reduzindo o desgaste para o doente e aumentando a qualidade e relevância dos dados.

Mais dados, melhores dados

Aos dados disponibilizados por MCG e ISCI poderemos juntar os resultantes de dispositivos cada vez mais comuns como os smartwatches e outros wearables, que actualmente já nos podem dar informações referentes a frequência/ritmo cardíaco, saturação de oxigénio, temperatura, movimentação/velocidade, localização, entre outros.

O desafio é, também aqui, a integração destes dados, tornando-os efectivamente úteis. A gestão da informação exige rigor, segurança, padrões comuns e interoperabilidade que permitam que a mesma possa ser obtida e utilizada por vários sistemas e equipamentos. Esta enorme e crescente quantidade de dados (Big Data) é uma realidade na sociedade actual e a Diabetes é uma das áreas que dela mais poderá beneficiar.

Este é um importante campo de inovação que, para além de envolver os profissionais e os doentes, capta o interesse da indústria mais ‘convencional’, mas também de outras empresas e start-ups na área tecnológica, que poderão desenvolver novas formas de interacção recorrendo a sistemas de inteligência artificial, sem esquecer as soluções DIY (Do It Yourself) que surgem como a resposta espontânea de pessoas afectadas pela Diabetes às dificuldades, limitações e latências na disponibilização das tecnologias.

Diabetes: reduzir a distância do cuidar

O contexto pandémico da Covid-19 veio mostrar que a telessaúde é cada vez mais uma opção que pode, em muitas circunstâncias, complementar os cuidados de saúde em presença física. Profissionais, doentes, cuidadores, instituições, empresas e a sociedade em geral estão hoje mais receptivos a esta dimensão assistencial que está longe de ser uma novidade (um ‘simples’ telefonema ao médico ou enfermeiro sempre foi uma forma de telessaúde) mas onde foram derrubadas ou, pelo menos, reduzidas, diversas barreiras práticas e reticências.

Neste domínio tem vindo a desenvolver-se ainda a telemonitorização, que permite o acompanhamento de doentes à distância em formatos mais ou menos interventivos, por vezes até em tempo real, facilitando a implementação de modalidades mais abrangentes de acompanhamento da doença crónica.

Sabemos que a Diabetes é um importante desafio. Mas cada vez mais a ciência e a tecnologia, a par da vontade e da dedicação dos profissionais, juntamente com a aposta de empresas e empreendedores, vêm dar resposta a este desafio.

O panorama mudou, e muito.

As novas tecnologias e a evolução científica estão a concretizar uma revolução na Medicina em geral e na Diabetes em particular.

Por isto todos nós devemos encarar o futuro realisticamente com mais optimismo.

 

Nota: Texto escrito na ortografia prévia ao A.O. de 13 de Maio de 2009

Fonte: Saúde Online

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