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Solução para urgências de obstetrícia pode estar nos enfermeiros especialistas

Presidente do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia defende ao DN que constrangimentos nas urgências poderiam ser evitados se Portugal tivesse o conceito de centros de partos normais e os hospitais deixassem de ser “medicocêntricos”.

No início de junho, os serviços de urgência de ginecologia-obstetrícia de vários hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) começaram a dar sinal do que seria este verão quanto à falta de médicos. Logo nessa altura, várias unidades, de Norte a Sul do país, começaram a ter de encerrar, por horas ou dias, normalmente ao fim de semana, estes serviços de urgência por falta de especialistas para assegurar as escalas. Dois meses depois o problema mantém-se e até se agrava nalgumas unidades.

A Ordem dos Enfermeiros, através do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica (CEESMO), já assumiu publicamente ter uma “solução a médio e longo prazo para o problema da gestão dos recursos humanos (médicos obstetras)”. Para tal bastava que os enfermeiros especialistas fossem envolvidos na reforma ou na mudança pensada para esta área.

Ao DN, a presidente do CEESMO, Irene Cerejeira, defende que esta é uma solução “simples e barata, não envolvendo nem obras nas unidades do SNS nem mais recursos humanos. Só é preciso que os enfermeiros especialistas nesta área possam cumprir as funções legais para as quais foram formados”.

Uma solução que, no fundo, já viria ao encontro do que é praticado, em certa medida, no SNS, mas que necessita de ser adequada em protocolo no que respeita à assistência aos partos normais. Irene Cerejeira refere-se à criação dos Centros de Partos Normais (CPN), que mais não são do que “a determinação correta para a assistência aos partos fisiológicos por parte de enfermeiros especialistas”.

Ou seja, centros em que a assistência dada aos partos fisiológicos, considerados normais e sem complicações, estaria a cargo de enfermeiros especialistas. Seria o enfermeiro a observar as utentes, a interná-las, a realizar o parto, e a dar-lhes alta, depois de o recém-nascido ser observado por um pediatra. Este trabalho seria feito em articulação com os enfermeiros especialistas de saúde materna e obstetrícia das unidades de cuidados primários, a quem competiria, após alta hospitalar, acompanhar a grávida e o recém-nascido já no domicílio.

Portanto, e como argumenta Irene Cerejeira, Centros de Partos Normais são um conceito de assistência obstétrica há muito defendido pela própria Organização Mundial da Saúde. “Quando uma utente grávida, sem qualquer patologia associada, entrasse em trabalho de parto espontaneamente e recorresse a um serviço de urgência do SNS seria internada por um enfermeiro especialista, que realizaria o parto, e que após o parto a transferiria para o serviço de puerpério. Quando a utente estivesse estabilizada e o bebé a mamar bem, ao fim de 18 horas, digo eu, o enfermeiro daria alta à utente, que iria para o domicílio e passaria a ser acompanhada por um enfermeiro especialista da área dos cuidados na comunidade, que faria as visitas ao domicílio para observar a utente e o recém-nascido. Ao fim de três dias, a utente e o bebé voltavam ao hospital para uma consulta com o enfermeiro especialista e com o pediatra para se verificar se estava tudo bem”, detalhou ao DN.

“Os enfermeiros são responsáveis pelos atos que praticam”
“A solução dos centros de partos normais é tão simples quanto isto. É a assistência pela enfermagem a partos fisiológicos normais. Os enfermeiros especialistas têm formação adequada e competências legais, não só em Portugal, mas em todo o mundo, para realizarem tais funções. E isto poderia aliviar o trabalho médico”, mas para tal era necessário que “deixássemos de ter também hospitais médicocêntricos”, sublinha.

Irene Cerejeira ressalva que já são os enfermeiros especialistas que realizam uma boa parte dos partos normais nas unidades do SNS e que só falta dar-lhes competências para “realizarem internamentos e decretar altas hospitalares”, o que, e como tem defendido a Ordem, “aliviaria o trabalho dos médicos e os constrangimentos que agora se sentem nas urgências”. E reforça: “Os enfermeiros são responsáveis pelas decisões que tomam e pelos atos que praticam”.

Questionada pelo DN, a presidente do colégio da especialidade de Saúde Materna e Obstetrícia garante que, quer a nível hospitalar quer nos cuidados primários, não sejam necessários mais enfermeiros especialistas nesta área. Bastava que “todos os enfermeiros especialistas pudessem exercer as suas funções em plenitude. Bastava que muitos dos enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia dos cuidados primários em vez de estarem a dar apoio a utentes dependentes estivessem a exercer na sua área”.

Por outro lado, seria preciso também resolver a situação de muitos enfermeiros especialistas, que “desempenham estas funções, mas que estão a receber como enfermeiros de cuidados gerais. Fala-se muito dos médicos, mas também é necessário olhar para os enfermeiros e pagar-lhes de acordo com as suas categorias”.

Na posição assumida, o CEESMO explica que “os centros de parto normal surgiram com o objetivo de resgatar o direito à privacidade e à dignidade da mulher durante o trabalho de parto e pós-parto, num local semelhante ao seu ambiente familiar e, ao mesmo tempo, garantir cuidados seguros, oferecendo-lhes recursos tecnológicos apropriados em casos de eventual necessidade. É esperado que disponham de um conjunto de elementos destinados a receber a parturiente e seus acompanhantes, permitindo um trabalho de parto ativo e participativo, recorrendo a práticas baseadas em evidências recomendadas”. E os centros de parto normal “visam promover o parto fisiológico normal”, porque “o objetivo da assistência é ter uma mãe e uma criança saudáveis, mantendo cuidados seguros com o menor nível possível de intervenção”.

Por isso, Irene Cerejeira argumenta que ao encerrar-se urgências e ao não se pensar em outras formas de dar assistências às utentes grávidas “não se está a pensar verdadeiramente nos interesses da utente. Quando as utentes planeiam um parto, planeiam com uma equipa e numa unidade. Não é justo que ao chegar esse momento sejam desviadas para outros sítios. Isto significa que não estão a ser colocadas no centro dos cuidados e que as estamos a empurrar para o privado. Não me parece que seja a melhor solução para o SNS”.

Ver mais sobre :

Observatório de Violência Obstétrica defende centros de parto normal para aliviar urgências

Fonte : Diário de Notícias

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