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Até saúde pública alemã vive crise. Que se passa com SNS na Europa?

Os problemas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal não são caso único a nível europeu. Também em países como Reino Unido, França e até na sempre eficiente Alemanha se vivem problemas e se fala da “pior crise de sempre”. Mas, afinal, o que se passa?

Em Portugal, a crise nos hospitais públicos já levou à demissão da ministra da Saúde, Marta Temido. De nada lhe valeu ter sido, para muitos, uma das grandes heroínas do combate à pandemia de covid-19.

Temido não resistiu aos problemas no SNS fruto da falta de recursos humanos, com urgências a encerrarem e muitos protestos dos profissionais de saúde.

Mas a situação tende a agravar-se ainda mais nos hospitais com os efeitos da inflação nos custos do sector e já se pede mais dinheiro para o SNS no Orçamento de Estado (OE) para 2023.

“Sem um aumento considerável no financiamento do OE, vamos ter grandes problemas“, alerta o gestor do Centro Hospitalar de São João, no Porto, Xavier Barreto, em declarações ao Dinheiro Vivo.

Os preços dispararam em diversos materiais e equipamentos necessário nos hospitais, nomeadamente em produtos como o algodão que passou de 60 para 230 euros por tonelada.

“O reforço de 700 milhões de euros no OE deste ano não previa este cenário” e “se o governo não previr um reforço significativo na dotação para os hospitais no próximo ano, será muito difícil continuar a dar resposta“, alerta também o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, no Dinheiro Vivo.

A estas dificuldades financeiras juntam-se os problemas da falta de profissionais, com a contínua fuga de médicos e enfermeiros para o privado.

Mas a situação complicada “afecta todos os sistemas de saúde europeus”, nota Xavier Barreto que sublinha, assim, que “seria bom que houvesse uma estratégia de saúde europeia“.

Dando o exemplo da forma como houve uma solução europeia para a compra rápida de vacinas contra a covid-19, o gestor hospitalar nota que é necessária “uma visão que se alargasse também aos recursos humanos, outra preocupação comum à Europa”.

“Hospitais alemães estão em perigo”

Até na Alemanha, um país conhecido pela eficiência dos serviços públicos, há problemas na saúde, com “camas de Urgências e Unidades de Cuidados Intensivos fechadas”, “cuidados pediátricos no limite” e cada vez maiores esperas por “tratamentos essenciais”, alertam os profissionais alemães numa carta enviada ao Governo de Olaf Scholz.

“Se o governo não agir já no sentido de compensar os efeitos da inflação, seremos obrigados a despedir, pondo em causa a capacidade de garantir atendimento de qualidade e eficiente”, avisam ainda os profissionais de saúde germânicos.

Assim, solicitam um apoio mais “eficaz”, notando que há “um défice de investimento anual de 3,5 mil milhões de euros” que está a causar dificuldades na “criação e manutenção de estruturas modernas e eficientes”.

“Os hospitais alemães estão em perigo”, alertam ainda, lamentando que “a falta de pessoal está a crescer” e que já está a haver efeitos nos tratamentos concedidos aos pacientes.

Mesmo na Alemanha se lamenta a sobrecarga pelos atrasos provocados pela necessidade de concentrar respostas na covid-19, mas também a subida de preços e o excesso de burocracia que pende sobre os ombros dos médicos.

SNS britânico na “maior crise de sempre”

No Reino Unido, a nova primeira-ministra, Liz Truss, vai herdar um NHS (a sigla em Inglês para Serviço Nacional de Saúde) “de joelhos”. É o The Guardian quem o nota, sublinhando que o NHS britânico está mergulhado na sua “maior crise de sempre”.

O sistema de saúde do Reino Unido está “velho, tem múltiplas comorbidades e precisa urgentemente de assistência de emergência“, aponta ainda o jornal.

“O Verão deixou-o de joelhos”, mas “o pior é esperado para este Inverno”, altura em que pode haver dificuldades de acesso a cuidados básicos, acrescenta.

Há “105 mil vagas” por preencher, serviços “superlotados”, com “cerca de uma em cada sete camas hospitalares ocupadas por pacientes que não podem receber alta”, nota ao jornal o chefe executivo da Confederação do NHS, entidade que representa o sistema de saúde britânico, Matthew Taylor.

“Alguns pacientes tiveram que esperar mais de 40 horas por uma ambulância“, denuncia ainda Taylor, frisando que a assistência aos doentes está “a ser colocada em risco por edifícios negligenciados devido ao sub-investimento”.

Além disso, há “listas de espera que se estendem aos milhões em cuidados electivos, saúde mental e cuidados comunitários”, nota também o dirigente da Confederação do NHS.

Noutros anos, havia problemas em áreas específicas do NHS, mas agora “a casa toda está a arder”, sublinha o The Guardian. “Não há literalmente nenhum lado onde não seja mau, e em alguns casos, muito mau”, refere à publicação o editor do Health Service Journal (Jornal do Serviço de Saúde), Alastair McLellan.

Os problemas para contratar e reter pessoal também se verificam no NHS – e note-se que, nos últimos anos, muitos profissionais portugueses, nomeadamente enfermeiros, “fugiram” para o Reino Unido, onde se ganha mais e se sentem mais valorizados.

“Entramos na pandemia com um serviço de saúde já esgotado, com grave escassez de pessoal, problemas de moral e sub-financiamento”, alerta no The Guardian a professora Christina Pagel do centro de investigação da Universidade College London.

A covid-19 só atirou mais achas para a fogueira e o Brexit não ajudou, com o NHS a perder muitos funcionários de países da União Europeia que resolveram voltar para casa.

Pelo meio, há enfermeiros a pedirem melhores salários, frisando que é uma das soluções para reter profissionais no NHS.

Mas persiste a ideia de que os problemas se vêm arrastando há décadas e de que não será fácil encontrar uma solução imediata, tanto mais com o Inverno à porta e o receio de uma nova vaga de covid-19, e com o fantasma da inflacção pelo meio.

Sistema de saúde francês “está no limite”

Em França, os problemas são semelhantes e o próprio ministro da Saúde, François Braun, assumiu-os muito claramente em Julho passado, quando tomou posse.

 

“Todo o nosso sistema de saúde está no limite”, alertou Braun, um antigo Chefe de Urgências num Hospital público francês.

“A escassez de médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem já provocou, nos primeiros dias do Verão, o encerramento ou o funcionamento degradado de mais de 120 serviços de urgência do sector público”, aponta o Le Monde que fala de um sistema hospitalar em “crise profunda”.

O jornal nota que há uma “hemorragia de pessoal”, com a saída de profissionais para o sector privado, ou para a educação, e que a “pandemia agravou uma situação já muito deteriorada”.

Uma crise “moral”

“As equipas médicas deixam o hospital porque não querem tornar-se monstros“, nota, por seu turno, a professora de Psicologia Social Pascale Molinier num artigo de opinião no Le Monde.

Molinier diz que há, acima de tudo, uma crise “moral”. “Vem de um sofrimento ético ligado ao que significa cuidar”, destaca.

A professora repara que se exige um “alto nível de tecnicidade” a médicos e enfermeiros, mas realça que “não se podem curar as pessoas apenas mudando os seus parafusos“.

Assim, Molinier nota a importância de “humanizar o hospital”, não apenas para o paciente, mas também para os profissionais de saúde. Porque, afinal, cuidar é dar “acolhimento, atenção, antecipar necessidades (descansar, tranquilizar)”, actos que não podem ser “quantificados”, sustenta ainda.

  , ZAP //

Fonte: ZAP

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