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Suporte Básico de Vida com Desfibrilhação Automática Externa

Foram criados ao longo do tempo vários tipos de equipamentos médicos de suporte de vida, responsáveis por atuar em caso de emergência médica. Para situações relacionadas com o coração, o músculo mais importante do corpo humano, como seja o caso de um enfarte, existem equipamentos e medidas que devem ser tomadas de modo a minimizar os efeitos menos desejáveis e por vezes fatais deste tipo de acidentes.

Anualmente, mais de 700.000 adultos na Europa morrem de doença cardiovascular, fazendo desta a primeira causa de morte no Ocidente. Pelo menos 40% morrem de morte súbita cardíaca, antes mesmo de chegarem ao hospital. A morte súbita cardíaca atinge pessoas de todas as idades e condições físicas. Muitas destas vidas podem ser salvas se as testemunhas presentes ligarem o número de emergência (112) e iniciarem de imediato o suporte básico de vida (SBV) e, se devidamente formados/treinados providenciarem a desfibrilhação em escassos minutos.

Desfibrilhação

A desfibrilhação é a aplicação de uma corrente elétrica num doente através de um desfibrilhador, um equipamento eletrónico cuja função é reverter um quadro de fibrilhação auricular ou ventricular. A reversão ou cardioversão dá-se mediante a aplicação de descargas elétricas no corpo do doente, monitorizadas de acordo com a necessidade em causa, fazendo com o que sangue volte a circular nas zonas afetadas.

Os choques elétricos são geralmente aplicados diretamente na parede torácica do doente ou através de elétrodos (placas metálicas ou apliques condutivos que variam de tamanho e área conforme a necessidade).

A desfribilhação é a única terapia eficaz para a fibrilhação ventricular. Por cada minuto que passa sem manobra de Suporte Básico de Vida (SBV) e desfibrilhação, a hipótese de sobrevivência diminui 7% a 10%.

Desfibrilhador 
O desfribilhador é um equipamento utilizado na paragem cardiorrespiratória com o objetivo de restabelecer ou reorganizar o ritmo cardíaco. O primeiro equipamento foi elaborado por Claude Beck em 1947 e utilizado em intraoperatório (desfibrilhação interna). Em 1956 o médico Paul Zoll elaborou a teoria e equipamento da desfibrilhação externa.

Desfibrilhador Automático Externo (DAE) 
O Desfibrilhador Automático Externo (DAE), utilizado em paragens cardiorrespiratórias, tem como função identificar o ritmo cardíaco ou fibrilhação ventricular (FV) presente em 90% das paragens cardíacas. Este equipamento tem a capacidade de efetuar a leitura automática do ritmo cardíaco e as condições cardíacas através de pás adesivas em contacto com o tórax do paciente.

O DAE tem o propósito de ser utilizado por público leigo e não especializado, com a recomendação de que o operador/utilizador faça um curso de Suporte Básico de vida (SBV) em paragem cardíaca. As descargas elétricas de 200 Joules (bifásico) e 360 Joules (monofásico) devem ser ministradas em adultos. As crianças acima de 8 anos – 100 Joules (redutor). Não há consenso na utilização por crianças com menos de 30 kg.

Hoje em dia, são utilizados equipamentos em Unidades de Emergência e UCI (Unidades de Cuidados Intensivos), com cargas monofásicas que variam de 0 a 360 Joules ou Bifásicas de 0 a 200 Joules.

Potenciar e fomentar a prática da desfibrilhação com um DAE visa o aumento da taxa de sobrevivência por morte súbita causada por fibrilhação ventricular. Em locais onde o programa de DAE proporciona de imediato o SBV e o primeiro choque nos 3 minutos após o colapso cardíaco, a taxa de sobrevivência para fibrilhação ventricular por morte súbita é superior a 74%. Atualmente, apenas 5% de vítimas de morte súbita sobrevivem em locais onde não existem programas de DAE instalados, capazes de providenciar SBV e desfibrilhação de forma rápida e eficaz.

Em muitos países a aquisição e utilização dos aparelhos DAE é livre e incentivada pelas seguintes razões:

  • Em caso de paragem cardiorrespiratória tem de ser aplicado de imediato, não havendo tempo para chamar o 112 (nº de emergência);
  • Os DAE atuam sozinhos/inteligentemente, aplicando o choque apenas se for estritamente necessário.

Manutenção do DAE 

É importante que se faça marcação, antecipadamente, da manutenção do aparelho de DAE de acordo com as recomendações do fornecedor. O responsável médico ou operacional tem de fazer um ponto de situação com regularidade. Esta pessoa deve desenvolver uma check-list para fazer a leitura do estado do DAE e das suas necessidades.

A check-list permite uma calendarização regular, mais detalhada, para a manutenção que é recomendada pelo fornecedor.

  • Verificação da localização dos DAEs;
  • Verificação da data de validade e de instalação da bateria do DAE;
  • Verificação do estado/luz do indicador de serviço;
  • Verificação dos componentes externos ou outro tipo de estragos;
  • Verificação dos suplementos (lâmina, toalhetes, dispositivo de barreira, tesoura, bateria extra, luvas descartáveis e um conjunto de elétrodos extra).

Cuidados com o equipamento DAE 

Após cada utilização, o DAE deve ser preparado de imediato para uma nova utilização, se necessário. O procedimento escrito para guardar o DAE deverá contemplar este guia no processo. Segue-se uma lista de atividades que devem ser incluídas:

  • Fazer o download da informação relativa à utilização anterior do DAE para o software de controlo de qualidade do programa;
  • Verificação e reposição dos suplementos apropriados (Lâmina, toalhete, dispositivo de barreira, tesoura, bateria extra, luvas descartáveis e um conjunto de elétrodos extra);
  • Limpeza e desinfeção do equipamento;
  • Verificação do estado da bateria;
  • Verificação do estado do equipamento;
  • Colocação do DAE no local designado para o efeito, juntamente com os suplementos necessários.

Programa Nacional de DAE (PNDAE) 

O Programa Nacional de Desfibrilhação Automática Externa (PNDAE) foi desenvolvido após a publicação do Decreto-Lei 188/2009 de 12 de agosto que veio estabelecer as regras a que se encontra sujeita a prática de DAE por pessoal leigo em ambiente extra-hospitalar.

O decreto-lei afirma que “o sistema agora criado integra a DAE em ambiente extra-hospitalar num contexto organizativo estruturado e com rigoroso controlo médico, com o objetivo de minimizar, tanto quanto possível, os riscos de utilização indesejável dos equipamentos. Neste sistema, o papel central na regulação da atividade de DAE em ambiente extra-hospitalar cabe ao Instituto Nacional de Emergência Médica, I.P. (INEM).”

O INEM desenvolveu assim o PNDAE previsto na legislação e, paralelamente, definiu os requisitos necessários quer para o licenciamento de programas de DAE quer para a acreditação de entidades ou escolas de formação em Suporte Básico de Vida (SBV) e Desfibrilhação Automática Externa (DAE).

Assim, e de acordo com o Decreto-Lei 188/2009 de 12 de agosto, dependem de licença a instalação e utilização de equipamentos de DAE em:

  • Ambulâncias de Socorro ou Transporte tripuladas por operacionais não pertencentes ao INEM;
  • Locais de acesso ao público.

A 8 de agosto de 2012, foi publicada a primeira alteração ao Decreto-Lei 188/2009 de 12 de agosto, através do Decreto-Lei 184/2012 que veio tornar obrigatória a instalação de equipamentos de DAE em determinados locais de acesso público, nomeadamente nos estabelecimentos comerciais de dimensão relevante.

A instalação de DAE passa assim a ser obrigatória nos seguintes locais:

  • Estabelecimentos de comércio a retalho, isoladamente considerados ou inseridos em conjuntos comerciais, que tenham uma área de venda igual ou superior a 2000 m²;
  • Conjuntos comerciais que tenham uma área bruta locável (ABL) igual ou superior a 8000 m²;
  • Aeroportos e Portos Comerciais;
  • Estações ferroviárias, de metro e de camionagem, com fluxo médio diário superior a 10.000 passageiros;
  • Recintos desportivos, de lazer e de recreio, com lotação superior a 5000 pessoas.

As entidades responsáveis pela exploração dos locais de acesso público referidos dispõem do prazo de dois anos para o cumprimento integral do disposto no presente diploma, contado da data da sua entrada em vigor, ou seja, dia 1 de setembro de 2012.

Licenciamento de Programas de DAE 

Várias instituições privadas e/ou públicas, preocupadas em melhorar a resposta a eventuais casos de paragem cardiorrespiratória, adquiriram ou pretendem adquirir Desfibrilhadores Automáticos Externos (DAE) para os colocarem nas suas instalações ou viaturas. Posteriormente, pretendem treinar os seus colaboradores no manuseio destes equipamentos para que os possam utilizar corretamente em caso de necessidade.

Requisitos essenciais para o licenciamento de um Programa de DAE:

  • Existência de um médico responsável pelo programa de DAE;
  • O médico responsável deve ter experiência relevante em medicina de emergência ou de urgência e/ou especialidade em cardiologia, cuidados intensivos ou anestesiologia;
  • Existência de dispositivos de DAE;
  • Os equipamentos de DAE têm que estar licenciados pelo INFARMED;
  • Dependendo da natureza do programa, devem existir operacionais de DAE em número suficiente para assegurar o período de funcionamento do programa de DAE;
  • A formação em SBV e DAE dos operacionais de DAE tem que ser ministrada por entidades/escolas acreditadas pelo INEM;
  • Existência de um responsável pelo controlo das necessidades formativas;
  • Existência de registos de todas as utilizações dos DAE e que estes possuam características que permitam a posterior análise dessas utilizações;
  • Existência de um permanente controlo de qualidade de todas as etapas do programa.

Guia de Implementação de Programas em Locais de Acesso ao Público 

O INEM desenvolveu o documento ‘Guia de Implementação de Programas em Locais de Acesso ao Público’, que pretende auxiliar as entidades promotoras a criar e desenvolver o seu próprio Programa de DAE.

Um maior número de pessoas pode sobreviver à morte súbita se alguém iniciar rapidamente a cadeia de sobrevivência. Esta cadeia consiste na sequência de ações necessárias para tratar uma situação de risco de vida.

A cadeia de sobrevivência de morte súbita no adulto tem quatro elos fundamentais:

  1. Pronto Reconhecimento e Ativação (Reconhecer a situação de emergência e ligar para os Serviços de Emergência Médica, através do número 112.)
  2. SBV Imediato (Iniciar imediatamente Suporte Básico de Vida a seguir à paragem cardíaca. O SBV faz com que a circulação de sangue e oxigénio seja reiniciada para o cérebro e coração. Esta manobra permite ganhar tempo até que a desfibrilhação possa ser realizada.)
  3. Desfibrilhação Atempada (Desfibrilhar a vítima assim que tenha o DAE. Esta medida é mais eficaz nos 3 a 5 minutos posteriores ao colapso cardíaco.)
  4. Cuidados Avançados (Estes cuidados são dados por profissionais de saúde que dão continuidade ao tratamento.)
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Implementação de sucesso de um programa de DAE 

A implementação de um programa de DAE é bem-sucedida se obedecer a quatro regras fundamentais:

  • Supervisão Médica e Controlo de Qualidade: O Governo autorizou a utilização de DAE por leigos, sob a supervisão de um médico. Este, para além de ser o responsável pelo programa e através da experiência que detém na área, pode assegurar uma implementação segura de um programa de DAE.

Outro tipo de profissionais de saúde, tal como enfermeiros, podem também integrar a equipa de supervisão e suporte desde que o médico continue como responsável máximo. O responsável médico pode ser chamado a responder pelo programa em auditorias ou perante entidades oficiais e/ou judiciais por atos praticados no âmbito do mesmo.

  • Integrar o Programa de DAE na cadeia de sobrevivência: A desfibrilhação precoce manuseada por um elemento treinado é apenas um elo da cadeia de sobrevivência. A legalização do Programa de DAE é um passo chave na sua implementação. O processo é levado a cabo pelo médico responsável, tendo de ter em consideração as exigências legais e encarar o serviço de emergência médica como parceiro na divulgação do DAE, assim como no desenvolvimento dos procedimentos para melhorias da qualidade e análise de critérios.
  • Seleção, Distribuição e Manutenção dos Equipamentos de DAE: Existem no mercado vários modelos de DAE com diferentes características técnicas, sendo que o INEM não faz uma recomendação específica na escolha de equipamentos. A seleção de um modelo e marca de DAE deve ter em conta o tipo de Programa a implementar.
  • Designação e prática de qualidade dos operacionais: O INEM recomenda ainda que quantos mais operacionais tenham formação em SBV e DAE, melhor. Ao identificar os operacionais, deve-se ter em conta pessoas que por norma estejam presentes nesse espaço e que tenham prática em responder a situações de emergência (os seguranças são excelentes candidatos, assim como elementos que trabalhem em locais de grande afluência de público).

Promoção de uma sociedade sã 

O objetivo primordial do PNDAE é a promoção da melhoria da sobrevivência das vítimas de morte súbita cardíaca. O compromisso das entidades competentes nesta matéria é salvar vidas, beneficiando os utentes e a Sociedade civil através do reforço da cadeia de sobrevivência.

O livre acesso do cidadão comum a um tratamento eficaz é um esforço tido em conta pelas entidades competentes, através da difusão da capacidade de desfibrilhação em viaturas de emergência tripuladas por não médicos e em programas de DAE implementados em locais de acesso público.

Fonte: http://www.apsei.org.pt

Veja os manuais do INEM, para Suporte Básico de Vida com Desfibrilhação Automática Externa.

 

Vê aqui Cursos Sobre Suporte Básico de Vida

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