Há razão para ter medo da anestesia?

Se 4 em cada 5 pessoas referem algum tipo de receio de serem anestesiadas, não é fácil desmistificar esta questão. Chama-se tomofobia ao medo de procedimentos e intervenções médicas, e se uma experiência cirúrgica é frequentemente assustadora, grande parte dos doentes refere a anestesia como a principal causa de ansiedade, provavelmente devido ao medo do desconhecido e da perda de controlo sobre o próprio corpo num momento de maior vulnerabilidade. Mas os benefícios de se entrar com tranquilidade e confiança num bloco operatório estão identificados, e considerando a extraordinária evolução nos medicamentos e equipamentos disponíveis, nas técnicas utilizadas e no treino das equipas médicas e de enfermagem, juntamente com a cultura de segurança que hoje ativamente se promove, é possível afirmar que, por muitas perguntas que possam surgir, é pouco racional ter medo da anestesia.

Os números não enganam: calcula-se que o risco de óbito de causa anestésica seja aproximadamente de 0,0005%, ou seja, 1 em cada 185000 anestesias. Um risco que tem vindo a diminuir para um décimo do que era há 50 anos. É cerca de cinco vezes mais provável sofrer uma fatalidade num acidente de viação.

Muitos dos mitos, baseados em ficção de Hollywood ou nas experiências anteriores do próprio ou de conhecidos, influenciam negativamente um evento que é na realidade extremamente seguro. O medo traz ansiedade, e uma pessoa ansiosa corre outros riscos: torna-se mais desconfiada das prescrições que tem de cumprir, sofre de mais dores e náuseas no pós-operatório, pode mesmo acabar por cancelar ou adiar uma cirurgia necessária. A própria ansiedade eleva a pressão arterial, provoca palpitações, aumenta a quantidade necessária de fármacos utilizados na anestesia e até alonga o tempo de recuperação.

E se não despertar da anestesia? Será que vou sentir dores após a cirurgia? Vou ter vómitos ou ficar mal disposto? E o meu medo de agulhas? É possível acordar durante a operação? Estas questões podem e devem ser esclarecidas previamente com o médico que atua como um provedor de quem vai ser operado: o anestesista. A sua função é garantir a segurança do doente antes, durante e após uma cirurgia, quando este está mais suscetível, administrando os medicamentos necessários e monitorizando o estado de consciência e as funções dos vários órgãos, numa minimização das consequências da agressão cirúrgica. Em vez de assustador, que seja reconfortante saber que, durante uma anestesia, está à cabeceira alguém completamente dedicado a salvaguardar-nos e proteger-nos.

Ter esta confiança é importante na gestão da ansiedade que envolve um procedimento anestésico, mas existem outras ferramentas que o próprio doente pode trabalhar para aliviar os medos. Ao estabelecer um plano para todo o período operatório que antecipe o que vai acontecer e o que vai necessitar está a limitar as incertezas que só servem para amplificar os receios. Pode concentrar-se no que consegue efetivamente controlar: o risco de desenvolver complicações diminui quando se melhora o estilo de vida, deixando de fumar, fazendo uma alimentação mais saudável, praticando exercício físico. E existem métodos de redução de stress, como a meditação, que permitem mitigar os medos e afastar os pensamentos negativos.

Medo da anestesia? É natural que nunca desapareça por completo, mas quando se compreende o que se vai passar e se confia em quem está sempre presente para o manter seguro e confortável, ele torna-se perfeitamente superável.