Saúde e bem-estarPatologias e sintomas

Claro benefício da corticoterapia injetável no Síndrome do Túnel Cárpico

Qual a eficácia clínica a curto e médio prazo das injeções de corticoterapia local comparativamente com a utilização de tala imobilizadora noturna no tratamento do síndrome do túnel cárpico leve a moderado no contexto de cuidados primários?

DESCRIÇÃO DO ESTUDO

Estudo INSTINCTS (INjection versus SplinTing in Carpal Tunnel Syndrome) randomizado e controlado, com 2 braços paralelos e de rótulo aberto, que decorreu entre Abril 2014 e Dez 2016 com indivíduos adultos de 25 centros de cuidados primários do Sistema Nacional de Saúde inglês.

Foram incluídos um total de 234 participantes (34% do sexo masculino) com idade igual ou superior a 18 anos (idade média 52.4 anos), diagnosticados com síndrome do túnel cárpico idiopático de grau ligeiro (parestesias intermitentes) a moderado (parestesias constantes com dormência e/ou dor reversíveis) e com duração superior a 6 semanas. Indivíduos com síndrome bilateral foram pedidos para definir para o estudo que pulso tinha sintomas mais graves.

Foram excluídos doentes: com síndrome grave (dor e dormência constantes, bem como perda sensorial e/ou atrofia muscular, no pulso e mão); tratamento com injeções de corticoterapia e/ou utilizado tala imobilizadora noturna nos 6 meses prévios ao estudo; entre outros.

Os autores foram cegos para os grupos de tratamento dos participantes, mas não foi possível esconder dos participantes nem dos médicos assistentes o grupo de tratamento. Os participantes foram distribuídos aleatoriamente (1:1) para receber ou uma única injeção de metilprednisolona 20mg ou uma tala de contenção noturna durante 6 semanas (e pelo menos 4-6 noites por semana), e às 6 semanas de tratamento foi aplicado o mesmo questionário (Boston Carpal Tunnel Questionnaire) em ambos os grupos. Os doentes foram seguidos durante 2 anos após início do estudo, mas os resultados a longo prazo (12 e 24 meses) ainda não foram publicados.

OUTCOMES

Primário:

  • Score total para a gravidade dos sintomas e limitações na função do Boston Carpal Tunnel Questionnaire (BCTQ) às 6 semanas

Secundários:

  • Foram aplicados várias escalas e scores aos 6, 12 e 24 meses relativos ao status funcional da mão-pulso, necessidade de referenciação para cirurgia/cirurgia, aderência ao tratamento, necessidade de analgesia e satisfação com o tratamento, entre outros.
  • Efeitos adversos

RESULTADOS

Grupo da corticoterapia (n=116)Grupo da tala noturna (n=118)Análise de regressão
Adjusted mean difference(IC 95%)P value
Score total do BCTQ
Baseline2.69 (0.70)2.65 (0.62)
6 semanas2.02 (0.81)2.29 (0.75)–0.32 (–0.48 a –0.16)0.0001
6 meses2.15 (0.79)2.06 (0.73)0.06 (–0.11 a 0.23)0.499
Gravidade dos sintomas
6 semanas2.12 (0.84)2.43 (0.76)–0.35 (–0.53 a –0.17)0.0001
6 meses2.33 (0.86)2.18 (0.75)0.13 (–0.07 a 0.33)0.209
Limitação funcional
6 semanas1.88 (0.88)2.09 (0.86)–0.26 (–0.43 a –0.09)0.0031
6 meses1.91 (0.84)1.89 (0.84)–0.005 (–0.175 a 0.166)0.957

Verificou-se ainda uma melhoria da intensidade da dor punho-mão (–0.97; p value = 0.0049) e insónias (OR 0.44; p value = 0.018) menos frequentes no grupo da injeção de corticoterapia vs. tala imobilizadora noturna. Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas nas referenciações para cirurgia, nas cirurgias efetuadas ou na necessidade de medicação analgésica nos diferentes grupos de tratamento.

Não foram reportados quaisquer efeitos adversos sérios ou inesperados. No grupo da corticoterapia injetável 4 participantes (3%) reportaram alterações cutâneas ligeiras no local da injeção, 17 (15%) reportaram hot flushes, 53 (46%) reportaram agravamento da dor no pulso ou mão logo após a injeção e 18 (34%) destes reportou manutenção dessa dor mesmo após 3 dias. No grupo da tala imobilizadora noturna, 7 (6%) participantes não conseguiram utilizar a tala adequadamente por desconforto

CONCLUSÕES

Às 6 semanas verificou-se uma melhoria superior e estatisticamente significativa com a injeção única de metilprednisolona em comparação com a tala de contenção noturna na redução dos sintomas e capacidade funcional do punho-mão.

COMENTÁRIO

O síndrome do túnel cárpico é a neuropatia de compressão mais comum a nível mundial, afetando 1 em cada 25 indivíduos, especialmente mulheres de meia-idade. Mais de metade dos doentes têm sintomas bilaterais, e muitos referem agravamento das queixas no período noturno. O diagnóstico é clínico, excepto em situações graves em que se pondera cirurgia e é necessária realização de exames eletrofisiológicos. Quanto à doença ligeira ou moderada, ainda não existe um claro consenso para o melhor método de tratamento, e as guidelines recomendam vários: anti-inflamatórios orais, corticoterapia local injetável e/ou tala imobilizadora noturna. No entanto, embora existam evidências da eficácia a curto prazo destas intervenções, o seu benefício a longo prazo é incerto, e continua também por esclarecer se alguma destas tem benefício sobre as outras.

Neste estudo, os autores propuseram-se a comparar a eficácia a curto e médio prazo da metilprednisolona injetável vs. a tala imobilizadora noturna no contexto dos cuidados de saúde primários, o principal local de tratamento da patologia não-grave. Os resultados demonstraram que às 6 semanas de intervenção, uma única dose de corticoterapia injetável é superior de forma estatisticamente significativa na redução da gravidade dos sintomas e na limitação funcional, bem como na redução de insónias, e que estes efeitos perduram de forma relativamente estável até aos 6 meses após o tratamento (já sem diferenças estatisticamente significativas entre ambos os métodos). Já o grupo de tratamento da tala de imobilização noturna mostra-se inferior às 6 semanas mas continua a mostrar melhorias nos resultados até aos 6 meses, o que indica que a injeção de corticóide é mais rapidamente eficaz que este método.

No entanto, os autores destacam algumas limitações desta análise: ausência de um grupo de controlo sem tratamento ou de um grupo a realizar ambas as intervenções, dado que é frequente a prescrição de ambas nos cuidados de saúde primários; e o seguimento após as intervenções foi apenas realizado através de auto-questionários e não existiu uma consulta clínica para confirmar as queixas dos participantes.

Em suma, este estudo vem trazer novas evidências para o benefício a médio prazo (6 meses) das terapêuticas atualmente disponíveis para a síndrome do túnel cárpico, com um claro benefício da corticoterapia injetável face à tala imobilizadora, mesmo com a semi-vida desta terapêutica sendo inferior a esse tempo. No futuro breve, estes autores vão publicar ainda os resultados a longo prazo (12 e 24 meses) destas terapêuticas, pelo que estes e os próximos dados publicados poderão vir a trazer mais clareza às guidelines atuais para os cuidados primários desta patologia.

Autores: Juan Rachadell, Raquel Vareda, António Vaz Carneiro

Fonte: Univadis

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