“Vais receber o tratamento que mereces”. Especialistas portugueses alvo de ameaças quando falam da Covid-19

Vários especialistas portugueses que habitualmente comentam a situação pandémica da Covid-19 no país, são alvo de ameaças de morte, de agressão e insultos, por defenderem temas como a vacinação em crianças ou sugerirem confinamentos, avança a ‘CNN Portugal’.

Um desses exemplos é o pneumologista Filipe Froes, consultor da Direção-geral de Saúde e coordenador do gabinete de crise para a covid-19 da Ordem dos Médicos. “Recebi várias mensagens com ameaças, nomeadamente de morte”, refere à estação, sublinhando que a pressão agravou-se quando começou a falar sobre o processo de vacinação.

Segundo o responsável, muitas ameaças chegavam através de mensagens privadas nas redes sociais, como o Facebook. “Mereces levar uma telega (tareia) à antiga”, “Se um dia estiveres por perto vais receber o tratamento que mereces”, “Sabes o teu destino não sabes?”, relata.

Também Luís Graça, imunologista e membro da Comissão Técnica de Vacinação da Direção-geral de Saúde (DGS), se viu confrontado com estas ameaças, depois de ter falado sobre a vacinação de crianças num canal de televisão. “Recebi ameaças e insultos, algumas por mensagens privadas nas redes sociais”, explica.

No mesmo sentido, Tiago Correia, investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova, foi ameaçado quando começou a expor-se publicamente. “Ameaçaram-me fisicamente, diziam-me que sabiam onde moro e que, como tenho filhos, devia passar a ter cuidado com aquilo que digo”, refere à ‘CNN Portugal.

Já Manuel Carmo Gomes, epidemiologista, membro da Comissão Técnica de Vacinação da DGS e um dos peritos que tem aconselhado o Governo, diz ter sofrido ameaças no período em que aparecia nas reuniões do Infarmed. “Recebi muitos emails com ameaças, algumas delas de pessoas que me queriam processar”, adianta.

João Júlio Cerqueira, médico especialista em Medicina Geral e Familiar, foi também alvo de várias queixas da Ordem dos Médicos, todas entretanto arquivadas, que resultaram na maioria de ter “denunciado que suplementos à saúde não eram eficazes contra a covid-19”.

Por último, o médico intensivista Gustavo Carona, refere à estação que desde que começou a pandemia recebe ameaças e insultos quase diários. “Recentemente, só por ter dito que os não-vacinados transmitem mais, adoecem mais e morrem mais, fui comparado aos nazis”, contou.

Para além disso, acrescenta, foi acusado de ” alimentar o pânico e o medo”. “Passei de ser médico para ser um personagem publicamente achincalhada”, recorda.