A análise da audição do recém-nascido pode prever o desenvolvimento neurofisiológico aos 12 meses

Investigadores portugueses provaram que a avaliação auditiva em lactentes em idade precoce pode ajudar a prever marcos e a deteção precoce de marcadores de perturbações do neurodesenvolvimento.

Vários estudos sugerem que a resposta do cérebro a diferentes intensidades de estímulos auditivos em recém-nascidos pode fornecer informações importantes sobre as habilidades básicas do processamento sensorial auditivo, com efeitos em cascata em aspectos como organização comportamental, envolvimento social e, consequentemente, competências linguísticas.

Foi a partir deste estado da arte que os investigadores Sara Cruz, Alberto Crego, Carla Moreira, Eugénia Ribeiro, Óscar Gonçalves, Rita Ramos e Adriana Sampaio iniciaram o estudo que deu origem ao artigo “Potenciais evocados auditivos corticais em 1 mês- bebês velhos preveem resultados de linguagem aos 12 meses”, publicado na revista Infância.

Participaram do estudo 18 díades mãe-bebê recrutadas ao nascimento, todos os bebês que atenderam aos critérios de nascer a termo, peso > 2.500 g, índice de Apgar de 9/10 nos 10^º minuto, e tendo passado no teste médico de audição. Os bebês foram avaliados em dois momentos distintos: um mês e aos 12 meses de idade.

No artigo, os pesquisadores explicam que, por meio de eletrodos, registraram o CAEP – Cortical Auditory Evoked Potentials, ou seja, uma série de ondas geradas no Córtex auditivo em resposta ao som, para examinar os componentes chamados P2 e N2 por dois estímulos auditivos intensidades em lactentes de um mês de idade. Em seguida, buscaram correlacionar a resposta do CAEP a ambos os estímulos auditivos com as competências neurocomportamentais, uma vez que a reatividade dos bebês a estímulos externos (características de interação social) e internos (habilidades autorregulatórias) tem sido associada ao comportamento do tipo social.

Por fim, a equipa de investigadores liderada pela Universidade do Minho procurou provar se a resposta neurofisiológica registada em bebés de um mês previa resultados de desenvolvimento aos 12 meses. “Até onde sabemos, nenhum outro estudo abordou essas questões usando uma abordagem neurofisiológica em respostas a diferentes intensidades de estímulos auditivos e avaliação do desenvolvimento”, diz Adriana Sampaio, pesquisadora apoiada pela Fundação BIAL.

“Neste estudo, comprovamos que os CAEP em bebês de um mês de idade estão relacionados ao comportamento interativo e às habilidades autorregulatórias e, em bebês de 12 meses, às competências de linguagem”, revela o pesquisador da Faculdade de Psicologia da da Universidade do Minho.

Os resultados obtidos foram consistentes com estudos anteriores que indicam uma associação entre o processamento auditivo e os resultados do desenvolvimento em lactentes, o que pode ser crucial para a detecção precoce de distúrbios do neurodesenvolvimento em crianças.

Fornecido pela Fundação BIAL