Coronavírus (COVID-19): O dia a dia de um médico na luta contra a doença
Aos 38 anos, ele ofereceu-se como voluntário para se juntar à equipa médica que trata as pessoas infetadas pela nova pneumonia viral e que estão isoladas. Para Wong, é uma forma de evitar trabalhar daqui a uns meses e, dessa forma, assistir ao nascimento da sua filha, previsto para abril. Por enquanto, para evitar qualquer risco de contágio, limita ao máximo os contactos com a família.
“Tudo o que posso fazer é proteger-me e ficar longe de todos, da minha família e dos meus amigos”, explica à AFP.
Desde que se juntou a esta equipa médica no início de fevereiro, Wong dorme num hotel perto do hospital e, para minimizar qualquer risco de contaminação, rapou o cabelo. “O melhor presente que lhes posso dar é, talvez, continuar a ser um marido vivo”, observa, enquanto coça as mãos, irritadas pelas lavagens frequentes.
Wong planeia celebrar o dia de hoje, Dia dos Namorados, com a esposa, mas no restaurante vão sentar-se em mesas diferentes. Como ele, centenas de médicos e enfermeiros de Hong Kong estão separados das suas famílias por causa do novo coronavírus, que já fez quase 1.400 mortos na China continental.
Em Hong Kong, território chinês semiautónomo, foram registados 53 casos de contaminação e uma morte.
Veja em baixo o mapa interativo com os casos de coronavírus confirmados até agora
Se não conseguir ver o mapa desenvolvido pela Universidade Johns Hopkins, siga para este link.
Material limitado
Embora esses números sejam muito baixos em comparação à China continental, o pessoal médico está sob grande pressão nos hospitais, já sobrecarregados nessa megalópole de mais de 7 milhões de habitantes.
Atualmente, nos hospitais públicos de Hong Kong, 60% das salas de isolamento estão ocupadas por pessoas portadoras do novo coronavírus, ou casos suspeitos.
“Precisamos visitar cada paciente duas vezes por dia e temos três reuniões diárias com nossa equipe para avaliar a situação de cada um”, diz o médico, que fala em caráter pessoal.
A falta de material de proteção individual – máscaras, óculos, luvas – adiciona mais pressão ao já forte impacto psicológico.
As autoridades de Hong Kong reconheceram ter apenas um mês de reserva de máscaras para o pessoal médico e tentam importá-las, mas o contexto internacional já é de escassez.
As associações de médicos se preocupam, afirmando que, na taxa atual, essas reservas podem se esgotar antes do esperado. Essa falta de previsão do Executivo de Hong Kong é altamente criticada.
Milhares de médicos entraram em greve no início de fevereiro para obter o fechamento total da fronteira com o restante da China.
Agora, quase todos os pontos de trânsito foram fechados, e qualquer viajante vindo da China continental deve ficar isolado por duas semanas.
Wong alega não ter se juntado a esse movimento, que, no entanto, apoiou. Ele lamenta que o governo não tenha se preparado melhor para esse tipo de epidemia, pois, segundo ele, “a história se repete”.
Em 2003, 299 pessoas morreram em Hong Kong vítimas da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), causada por outro coronavírus.
Oito funcionários de saúde morreram, incluindo um jovem médico do hospital onde o dr. Wong trabalha.
Wong, que era estudante de medicina na época, diz agora que não sabe se vai se arrepender de ser voluntário.
Mas, para ele, uma coisa é certa: “Alguém deve fazer o trabalho, e nós somos as pessoas treinadas para isso”.
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